Há muitas camadas de espanto no atentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) cometido por um ex-candidato a vereador pelo PL de Rio do Sul (SC).
O Brasil passa a debater conceitos como "terrorista suicida" e "lobo solitário", ainda pouco frequentes por aqui. Mas a coincidência mais espantosa é ter ocorrido às vésperas da reunião de cúpula do G20 que abordaria, pela primeira vez na história, o combate à desinformação.
O tema deve estrear na declaração final do encontro do G20 no Rio de Janeiro. Começou a ser discutido na terça-feira (12) pelos sherpas, como são chamados os negociadores dos líderes das principais economias do planeta.
Tudo indica que Francisco Wanderley Luiz agiu sozinho, daí os qualificativos de "lobo solitário" ou "terrorista suicida". Mas até lobos solitários têm contexto. O deste filiado ao PL era a campanha sistemática de líderes de seu partido e outros aliados contra o STF, ou seja, desinformação.
Em uma das mensagens publicadas no seu perfil, escreveu: "Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas".
O cidadão Francisco pode ter sofrido com transtornos psicológicos. Mas sem o contexto que transformou o STF em fonte de todo o mal teria conduzido suas ações de outra forma. O alvo de seu desequilíbrio foi muito específico.
O STF está longe de ser uma instituição inatacável. Tem vícios, privilégios e distorções. Mas não foram problemas pontuais que se tornaram alvo de discurso de ódio - como no famoso slogan "supremo é o povo". Virou vilão favorito por se interpor entre delírios golpistas e a realidade.
O atentado está obviamente vinculado aos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro. São dois resultados de uma frase usada pelo governo britânico na Segunda Guerra Mundial – careless talk cost lives (conversa descuidada custa vidas) – e reativada na esteira da disseminação de informações falsas.
Desta vez, custou apenas a vida do próprio agressor. Poderia ter ceifado outras. Estragos do tamanho do provocado pelo ex-candidato a vereador nunca têm apenas uma causa. A desinformação repetida ecoou em uma mente frágil. Quantas outras não podem sofrer efeito semelhante?