Com carreira guiada pela luta contra as desigualdades, Leila Loria assumiu uma cadeira ainda raramente ocupada por mulheres: a de presidente do conselho de administração da FCC, indústria de Campo Bom que fornece para os setores calçadista, de construção civil e moveleiro. Atua também em outras corporações - antes, em cargos executivos, agora apenas em conselhos. Ou seja, acompanha de perto a evolução, ainda que discreta, de mulheres, negros e outros grupos subrepresentados em cargos de liderança nas empresas.
Mais mulheres têm ocupado cargos de liderança?
Temos evoluído, só que em velocidade muito baixa. Mulheres ocupam 16% dos cargos em conselhos, o que é muito pouco depois de tantos anos de luta. Quando se avalia cargos de CEOs, é ainda pior. Ouço que a diversidade dá mais trabalho. Se tiver muitas pessoas diferentes, a reunião demora mais. Mas a diversidade enrique a empresa.
Quais são os benefícios de um ambiente corporativo mais diverso?
As empresas são melhor administradas, as ideias são mais criativas e mais completas, e os funcionários constroem relacionamentos melhores. As soluções são mais desafiadoras nesse mundo de disrupção que vivemos. Dá mais trabalho, mesmo. Então, que tenha mais diversidade para produzir soluções melhores, com diferentes perspectivas. Uma empresa que não abre portas a mulheres e negros está abrindo mão de metade da população brasileira. Empresas diversas também conseguem atrair mais talentos, que, em geral, preferem trabalhar em corporações com maior inclusão.
Como ascendeu a cargos de liderança?
Acumulei experiências distintas ao longo da minha carreira. Não posso reclamar de falta de oportunidade. Depois que saí da carreira executiva e comecei a ter um olhar mais amplo, percebi que as mulheres têm mais dificuldade de ascender no ambiente corporativo. A nível de conselho, guiei minha carreira para a causa de desigualdade de gênero. É muito difícil atuar em um ambiente em que você é a diferente.
Quais são os próximos passos da diversidade em empresas?
Ainda quero viver um ambiente em que haja muito menos desigualdade, em todos os sentidos. Diversidade é um discurso bacana, nem sempre as empresas adotam por convicção. Quero viver um momento em que as companhias não precisem ser convencidas de que a diversidade é importante.
*Colaborou João Pedro Cecchini