O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Com a aprovação do orçamento para 2024 e o tamanho da flexibilização que se anuncia para o arcabouço fiscal, o doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, antevê um debate mais intenso sobre as estratégias fiscais e percebe ambiente de pessimismo para os novos investimentos.
O que se pode esperar do crescimento do país em 2024?
A dúvida que paira diz respeito ao investimento das empresas. Percebemos que nos últimos trimestres os resultados têm sido pífios. A indústria não tem indo bem. Isso é uma questão estrutural, não é circunstancial. Não adianta a gente dizer que a inflação vai bem, porque nem isso vai ajudar. O crédito para indústria não é tão barato assim.
O que acontece com a indústria?
A gente já vê a indústria titubear há 20 anos. O câmbio também não ajuda, pois R$ 4,80 ou R$ 4,90 não é um dólar que possa fazer a diferença. E mesmo que fosse, essa vantagem competitiva cambial é muito fugaz, efêmera. Basear vantagens em câmbio, ao invés de pensar em produtividade, é um engano. Ao olhar para para os números do PIB, vemos uma desaceleração. E esse efeito ainda é algo associado a taxa de juros alta. Diante desses resultados, 2024 não será um ano de crescimento considerável.
O que poderia contribuir para alterar o cenário?
A reforma tributária, sem dúvida, foi um gol. Mas, se o governo demostrar que está disposto a avançar com outras reformas, o que não parece ser o caso, como a administrativa e a implementação do arcabouço fiscal, porque até agora a gente só viu intenções, mas não metas sendo cumpridas ou a aplicação do consequente mecanismo, em caso de descumprimento.
Ou seja, tudo depende do problema fiscal?
A questão fiscal é uma questão mal resolvida ainda. Se tivéssemos um ambiente com cumprimento de metas, reforma tributária, administrativa, política fiscal melhor calibrada e que demostrasse ser estrutural, eu tenho certeza de veríamos um ambiente de negócios impactado positivamente e os investimentos acontecendo. É isso que me preocupa: a falta de investimento. O PIB mostra a queda do nível de investimentos. E esse baixo investimento de hoje é o PIB de amanhã..