O "anúncio do anúncio" já havia sido modesto, depois os motivos foram esclarecidos, mas ficou grande a distância entre a linha de partida e a de chegada do plano do governo Lula para tornar mais acessível a compra de carros de até R$ 120 mil.
A correria para anunciar no Dia da Indústria que haveria algum tipo de estímulo a um de seus segmentos mais tradicionais acabou gerando congestionamento de obstáculos a desviar.
Foi quase um choque geracional: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice - e ministro de Indústria, Comércio e Desenvolvimento -, Geraldo Alckmin conceberam um plano de incentivo a veículos movidos a combustíveis fósseis com uma ferramenta típica da primeira década dos anos 2000. Nessa época, estímulos fiscais ainda não era vistos pelo viés crítico dominante hoje, inclusive dado o fracasso desse tipo de iniciativa - tanto do ponto de vista do retorno para a sociedade quanto de seu custo para os contribuintes.
Como um governo que depende de um aumento de arrecadação considerado de difícil de concretizar para obter sucesso em sua política econômica mais básica - o novo marco fiscal - "esqueceu" que seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, trafegava na contramão da concessão de estímulos? Ao contrário, tentava enxugar ao menos R$ 150 bilhões da conta estimada em R$ 600 bilhões anuais de dinheiro dos contribuintes destinados a essa finalidade.
Ainda que tivesse duas novidades em relação a modelos anteriores de incentivo - restrito a modelos abaixo de R$ 120 mil e condicionado a menores emissões -, o plano foi criticado por economistas preocupados com ajuste fiscal - pelo desequilíbrio entre custo e benefício - e com o ambiente - pelo fato de ainda ser um incentivo a uso de derivados fósseis.
Foi preciso que Haddad manobrasse para fazer uma curva bem fechada, praticamente um retorno, e convertesse o que era um plano com custo estimado em R$ 10 bilhões para algo perto de R$ 2 bilhões, dos quais a maior parte, R$ 1,5 bilhão, dos quais a metade deverá ser dirigida para a troca de caminhões e ônibus antigos e permitir a entrada da nova versão de motores, a Euro 6 (especificações de operação, que inclui sistemas de pós-tratamento dos gases de escapamento), que emitem menos poluentes. Sobram para os carros "apenas" R$ 500 milhões. Os recursos virão da reoneração do óleo diesel, que deve trazer arrecadação de R$ 3 bilhões.