Quando o presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS), Bruno Bastos, disse à coluna que a bolha do segmento havia estourado, com a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) ouviu muitas críticas. Agora, um estudo da respeitada consultoria Mc Kinsey corrobora a tese:
— A quebra do SVB confirmou o que muita gente já sabia, que esse é um momento delicado para o ecossistema da inovação — diz Marina Mansur, uma das autoras do estudo.
A apresentação já começa com a conclusão, curta e dura: "e agora estamos vivendo nosso primeiro ciclo de baixa real". Marina conta que o estudo, que está na quarta edição, estava em desenvolvimento quando o SVB quebrou. Foi preciso parar e reavaliar, relata, mas no final o episódio apenas confirmou o que já vinha aparecendo nos dados:
— É o primeiro ano em que a situação é mais negativa e pessimista, mas no Brasil a quebra impactou menos do que se imaginava. Muitas conseguiram tirar dinheiro antes.
Um dos principais dados do estudo é de que existe um "buraco" de US$ 2,5 bilhões (hoje, quase R$ 12,5 bilhões) para financiar esses negócios nascentes na América Latina. Marina detalha que, para os estágios iniciais, a "seca" não será tão forte quanto para as que já estão em fase de crescimento. E essa escassez preocupa porque só 30% dessas empresas têm caixa para operar por mais 18 meses.
— As startups vão precisar buscar esses recursos em outras fontes em um momento em que os investidores estão mais exigentes, não vão dar dinheiro para qualquer ideia, vão exigir maior equilíbrio entre crescimento e lucratividade — diz Marina, reforçando que antes desse "ciclo de baixa" a cobrança por resultados era muito menor.
Aliás, uma das curiosidades do estudo é a idade média dos empreendedores: 45 anos, o que surpreende em um segmento sempre associado a jovens criativos e ambiciosos.
— A maioria não é mais a molecada saindo da faculdade, sem experiência. O investidor prefere aportar em negócios que tenham alguém mais experiente, que seja empreendedor em série ou tenha aprendido com quebra anterior.
Entre as causas do "ciclo de baixa", aponta Marian, a primeira é a ressaca do boom de 2021.
— Foi um momento meio surreal. A superdigitalização no Brasil acelerou o crescimento, mas fez os ciclos encurtarem muito, e para entregar o que haviam prometido aos investidores, as startups precisaram crescer muito. Os salários dos desenvolvedores explodiram.
Se fosse possível retirar 2021 da série histórica, ressalva, o volume de investimentos teria crescido, porque ainda é maior do que antes da pandemia. Além disso, observa Marina, o Brasil segue atrativo como polo de inovação.
— Alguns fundos reduziram a presença no país, mas não tiraram totalmente o pé. Diminuíram o volume, até diante da crise global, e as startups vão se apertar no próximo ano e meio.
Como candidatos a supridores do buraco bilionário, Marina tem candidatos definidos: os fundos de empresas criados para investir em inovação, chamados de corporate venture capital (CVC).
— Um terço das startups segue no vermelho até nove anos depois da fundação. Esse cenário vai ter de mudar nos próximos meses. Será preciso acelerar o momento do break even (empate entre gastos e ganhos). No Brasil, houve amadurecimento ultrarrápido dos CVCs, mas se olharmos a proporção aqui e nos Estados Unidos, ainda há grande diferença, portanto espaço para crescer.
Entre as providências que terão de ser tomadas pelas startups, Marina cita mais precisão em definições de indicadores de desempenho, como o valor de vida do cliente - quanto dinheiro dá para o negócio - e o custo de aquisição - a quantia investida pela empresa para obter usuários.
— Essa numerologia é superimportante, tanto os investidores quanto os fundadores vão ter de pilotar na unha, medir mensalmente, ver onde podem melhorar essa relação. Também é preciso examinar custos, o que já vem ocorrendo com as demissões no segmento. Esses negócios estão todos em nuvem, os provedores cobram em dólares.