A Itália suspendeu o ChatGPT no país. A decisão, porém, não está baseada na ameaça do avanço da inteligência artificial para a humanidade nem no risco que representa para o mercado de trabalho - e em consequência, para a estabilidade econômica e social.
O motivo é mais prosaico, e interessa a todo nós, especialmente os chamados "early adopters", aqueles que correm para usar uma nova tecnologia assim que é lançada: a decisão foi tomada ante a confirmação de vazamento da dados pessoais na plataforma.
Diante do risco para a privacidade - e como se tem visto crescentemente, para a integridade financeira - dos usuários, a Garante per la Protezione dei Dati Personali (GPDP) proibiu o ChatGPT de processar dados na Itália. Na prática, a decisão restringe toda sua operação no país até o dia 20 deste mês.
Conforme o órgão regulador, equivalente à Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) do Brasil, a ferramenta não avisou sobre o vazamento, não tinha base legal adequada para coleta de dados pessoais e não verificava idade mínima de 13 anos dos usuários, regra da própria inteligência artificial generativa.
Esse tipo de tecnologia é chamado GPT, sigla para Generative Pre-Trained Transformer (transformador pré-treinado generativo), que designa máquinas "ensinadas" a gerar novas relações e aprendizados. Nas demissões massivas feitas por big techs como Amazon, Google, Meta (de Facebook, Instragram e WhatsApp), Microsoft e Twitter estão vários integrantes de equipes chamadas de "inteligência artificial responsável", que tinham como missão seguir preceitos éticos recomendados para produtos de consumo que usam inteligência artificial.
A coincidência - digamos que seja - de um salto tecnológico desafiador e os cortes nessa área gera a inquietação de que possíveis abusos não sejam detectados justo quando milhões de usuários são expostos de forma crescente a ferramentas de inteligência artificial. Como afirma o manifesto que pede pausa nas pesquisas, não se trata de travar o desenvolvimento científico: só de ter certeza de que o passo vai beneficiar a humanidade, não destroçá-la.