"O futuro chegou e não estamos preparados" foi a melhor frase que a coluna ouviu sobre os possíveis desdobramentos da inteligência artificial neste momento de impacto ante o ChatGPT - a versão considerada mais inofensiva.
E o melhor é que não foi dita por um ermitão antitech, mas por um entusiasta de invenções e disrupções, o CEO do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Eduardo Peixoto.
Foi uma resposta à pergunta sobre a confiabilidade das predições sobre os empregos destruídos pelo ChatGPT, diante da carta assinada por mais de mil especialistas pedindo pausa de seis meses nas pesquisas sobre sistemas avançados de inteligência artificial (IA), dados os "grandes riscos para a humanidade" (leia o original clicando aqui).
O bilionário Elon Musk, dono da Tesla, da SpaceX e do Twitter, é um dos signatários. É suspeito, porque pode ter interesse comercial em uma eventual trava a potenciais competidores. Mas há nomes respeitáveis: o historiador Yuval Noah Harari e o ex-sócio de Steve Jobs, Steve Wozniak, o Woz - até hoje visto como uma espécie de idealista da tecnologia. Eles não estão preocupados nem com o irmão mais esperto, o Chat4, que faz o ChatGPT parecer bobinho, mas experimentos acima desse nível, a chamada inteligência artificial generativa.
Há pouco tempo atrás, dizia-se que aprender a desenvolver softwares era a nova alfabetização e que todos deveríamos aprender. Pois bem: o trabalho de 10 horas de um ser humano desenvolvedor pode ser feito em duas pelo ChatGPT - o "bobinho" da família. Harari espalhou a esperança de o trabalho criativo não seria substituído pelas máquinas. Em estudos da própria OpenAI, "mãe" dos irmãos mais e menos espertos, os mais expostos à automação são matemáticos, contadores, escritores, web designers, jornalistas e secretários.
É esse o ponto de partida da carta: "Os sistemas de IA com inteligência que concorre com a humana podem representar riscos profundos para a sociedade e a humanidade". Pondera que "a IA avançada pode representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planejada e gerenciada com cuidados e recursos proporcionais" e vê "uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar mentes digitais cada vez mais poderosas que ninguém – nem mesmo seus criadores – pode entender, prever ou controlar de forma confiável".
As perguntas são ainda mais inquietantes: "Devemos deixar que as máquinas inundem nossos canais de informação com propaganda e falsidade? Devemos automatizar todos os trabalhos, incluindo os que nos satisfazem? Deveríamos desenvolver mentes não-humanas que eventualmente nos superem em número, sejam mais espertas, nos tornem obsoletos e nos substituam? Devemos arriscar perder o controle de nossa civilização?" O diagnóstico é taxativo: "Essas decisões não devem ser delegadas a líderes tecnológicos não eleitos".
A carta não sataniza a inteligência artificial. Ao contrário. Especifica que a pausa proposta se restringe à "perigosa corrida para modelos imprevisíveis" e garantir que toda pesquisa e desenvolvimento seja focada em tornar os sistemas já poderosos mais precisos, seguros, interpretáveis, transparentes, robustos, alinhados, confiáveis e leais. Os que perderam com a globalização e a mudança de comportamento geraram o caldo de ressentimento que ameaça democracias hoje. O número de perdedores com a nova onda da tecnologia será imensamente maior, com as previsíveis consequências para a estabilidade social e econômica.