A indicação de Fernando Lemos para a presidência do Banrisul causou alguma surpresa no mercado, especialmente fora do Rio Grande do Sul.
Lemos é considerado um últimos presidentes do banco público definido por critérios partidários, mas o fato de já ter passado pelo cargo dá verniz técnico a uma escolha política - além do fato de que o mesmo ocorreu no BNDES com a mudança de governo.
No Estado, o fato de Claudio Coutinho não ser gaúcho ainda causava certa comoção, mas nos últimos meses havia se cristalizado a percepção de que, como sua missão seria privatizar o Banrisul - o que Eduardo Leite se comprometeu a não fazer - sua presença no cargo não faria mais sentido. Ao longo dos últimos anos, também houve críticas a um suposto excesso de cautela na concessão de empréstimos.
— O Banrisul tem toda uma simbologia, é o "banco dos gaúchos", é um contexto que se entende. O Rio Grande do Sul tem profissionais muito bons, que eventualmente poderiam ser presidente do Banrisul, não necessariamente com vínculo político. Como Lemos já esteve no cargo, a indicação deve ser vista como técnico-política — avalia Luiz Miguel Santacreu, analista de risco da Austin Rating.
Na mais recente divulgação de resultados, o ainda presidente Claudio Coutinho atribuiu a baixíssima inadimplência - 1,6% da carteira com atrasos superiores a 90 dias, em um ambiente de maus resultados nos bancões - ao fato de não concentra crédito e fazer operações com garantias sólidas, como consignado, imobiliário, rural, ou com garantias do FGI do BNDES e outras. Na época, o CEO do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, chegou a dizer que "talvez tenhamos concedido mais crédito do que deveríamos".
— O que tem de ver, agora, é o que muda, de fato. O Banrisul não tem alterado muito sua linha nos últimos anos. Não é um banco politizado. Ainda que adote um foco maior em políticas públicas e alguns setores, não dá para reinventar a roda.
Santacreu lembra que, no contexto nacional, os bancos estão "tirando o pé do crédito", principalmente devido à elevada inadimplência:
— É uma equação que precisa de equilíbrio. O banco público pode ter foco social e na economia do Estado mas tem de observar o risco de inadimplência. Não pode ser oito nem 80. Esse momento é mais delicado. Aumentar a concessão de crédito quando famílias e setor produtivo estão mais debilitados vai exigir cautela. Pode aliviar os problemas de algumas empresas que precisam de crédito, mas é preciso ter cuidado com a saúde do banco. É importante atender às necessidades da população, sempre respeitando os critérios de qualidade de crédito.
Outro ponto para observar, acrescenta Santacreu, é a composição da nova diretoria do banco e como será o processo de aprovação dos nomes pelo Banco Central (BC):
— Aí vai ficar mais claro se o banco vai ter composição mais política ou se haverá mais funcionários de carreira e gestores técnicos. De qualquer forma, o banco sempre terá de atuar sob o guarda-chuva do BC e o arcabouço regulatório de fiscalização. Se tiver viés mais político, terá de ser dentro das regras do jogo.
Nesta terça-feira (25), depois da indicação, as ações do Banrisul estão praticamente estáveis (-0,19%), depois de acumular alta de 6,7% nos últimos 30 dias. No dia do anúncio, o Inter Research publicou um relatório com perspectivas sobre resultados dos bancos no segundo trimestre. Conforme a equipe, ligada ao banco Inter, a expectativa é de manutenção de tendências de trimestres anteriores, "ainda trazendo deterioração na qualidade de crédito em PF e agora em PJ"