A quebra do Silicon Valley Bank é uma das maiores dos Estados Unidos - há relatos de que seja a segunda depois do Washington Mutual, que tinha cerca de US$ 300 bilhões em ativos, mas falta a mãe de todas as falências, a do Lehman Brothers, que tinha esse indicador avaliado em US$ 600 bilhões.
Independentemente de rankings - o SVB era o 16º maior dos EUA, o que não é pouca coisa -, é uma quebra que deve espalhar estilhaços por vários segmentos da economia americana e além. Mas se a essa altura as causas da implosão do Lehman já foram bem entendidas, o que, afinal, causou esse estrago?
O banco foi fundado há 40 anos em Santa Clara, no Vale do Silício, quando esse polo tecnológico mundial começava a se formar. Entrou no mercado exatamente com a missão de financiar negócios que os concorrentes tradicionais não entendiam ou sobre os quais identificavam mais risco do que oportunidade.
As startups precisavam de dinheiro para financiar projetos, e a parceria se fortaleceu. Ao quebrar, o SVB tinha US$ 200 bilhões em ativos (R$ 1 trilhão, cerca de um décimo do PIB do Brasil em 2022). Com o sucesso das big techs - todas nascidas startups -, como Amazon, Apple, Facebook, Google, esse mercado foi inflado. Afinal, todos queriam ser o próximo Steve Jobs ou Mark Zuckerberg.
Na pandemia, a necessidade de dar estímulos às economias fez os juros básicos de vários países - inclusive os EUA - caírem para perto de zero. Como as startups têm maior percepção de risco e, por isso, prometem mais rendimento, o SVB surfou nessa onda: seus depósitos cresceram 86% só em 2021.
Como quase todos os bancos, com boa parte dos recursos dos clientes, o SVB comprou títulos de longo prazo do Tesouro americano, considerados muito seguros. Quando a inflação subiu e o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) precisou elevar seu juro básico, os investidores voltaram a comprar papéis do governo americano, que passaram a render mais, com baixo risco. Como as startups seguiam precisando de dinheiro, passaram a sacar do SVB.
Na quarta-feira (8), ao apresentar seus resultados ao mercado, o 'banco das startups" relatou prejuízo de US$ 1,8 bilhão com a venda de US$ 21 bilhões de títulos. O problema é que o banco havia concentrado suas compras em papéis pré-fixados, que permaneciam com rendimento baixo mesmo com a alta do juro. Na quinta (9), as ações despencaram 60%, e startups e fundos de venture capital - que investem nesses negócios -, passaram a retirar em massa seus depósitos. A corrida somou saque de US$ 42 bilhões, um quarto dos ativos da instituição.
No dia seguinte, veio a quebra, com intervenção do Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia (DFPI) fechou o SVB e nomeou a Corporação Federal de Seguro de Depósitos (Fdic, na sigla em inglês) como depositária dos fundos do banco. O programa emergencial criado pelo governo americano no domingo (13) freou espiral de estresse, mas ainda há muita incerteza no mercado.