Embora Jean Paul Prates deva assumir a presidência da Petrobras entre esta quinta-feira (26) e a sexta-feira (27), como a coluna antecipou, as anunciadas alterações na política de preços da estatal não vão ocorrer até abril.
A interlocutores, Prates vem dizendo que "ninguém vai sair fazendo mudanças no primeiro dia", então esse é uma espécie de compromisso não escrito.
Conforme a coluna apurou, a nomeação de Prates tem efeito até a assembleia geral ordinária marcada para 19 de abril. Como o mandato do ex-presidente Caio Paes de Andrade iria até essa data - ele renunciou à presidência antecipadamente para assumir a Secretaria de Gestão no governo do Estado de São Paulo -, é o mês para o qual deverá ser marcada a reunião de todos os acionistas com direito a voto.
Até lá, o governo Lula vai fazer suas indicações para o conselho. Devem ser substituídos ao menos cinco nomes indicados pelo antecessor - ainda há quatro integrantes nomeados por acionistas minoritários e um que representa os funcionários. Nesses mais de dois meses, Prates também definirá os nomes para a diretoria executiva da Petrobras. Durante os quase 15 dias que levou processo interno de avaliação da estatal, Prates se reuniu com quase todos os conselheiros atuais.
Nesses contatos, Prates tem reiterado que vai fazer mudanças sem "sustos". Em sua primeira manifestação, em frente ao hotel onde Lula segue hospedado em Brasília, havia afirmado, sobre a política de preços da Petrobras:
— Vai ser alterada. Mas não para traumatizar o investidor nem o retorno dos investimentos. Vai ser alterada porque a política do país vai ser alterada. A mudança de política, diretrizes de preço, vai ser dada pelo governo.
Como a declaração foi feita no dia 30 de dezembro, quando a bolsa não estava operando, Prates foi obrigado a repetir que não faria intervenção abrupta na estatal e manteria "alguma" referência internacional de preços:
— Todo preço vai ser vinculado internacionalmente de alguma forma. Uma coisa é você ter o internacional como referência, outra coisa é se guiar por preço de refinaria estrangeira mais o frete para chegar aqui, totalmente diferente. Paridade de importação não faz muito sentido, em alguns casos, então isso vai ser trabalhado devidamente.
Uma curiosidade sobre Prates é que, ao mesmo tempo que é visto com reserva por parte do mercado - mais o financeiro, porque é bem-visto no petroleiro -, parte da representação dos funcionários aponta seu "histórico privatista", entre outros motivos porque o futuro presidente da Petrobras ajudou a elaborar a Lei do Petróleo, de 1988, que quebrou o monopólio da estatal.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. Detalhe: a forma de cálculo não é conhecida no mercado, por isso existe tanta diferença em projeções de diferença entre os preços internos e os de referência. O principal objetivo é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. Mas também é uma forma de tornar viável a importação de combustíveis por valores abaixo dos praticados lá fora. Isso é mais crítico no caso do diesel, porque 30% do consumo interno depende de importação. O que a Petrobras informa sobre o cálculo atual é que inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.