André Pires de Oliveira Dias é diretor financeiro da Aegea Saneamento e Participações S/A, que arrematou a Corsan em leilão nesta terça-feira (20). Como responsável pela área financeira, Pires se envolveu diretamente em um assunto que chamou atenção nesta terça-feira (20) quando foi aberta apenas uma proposta de oferta pela companhia de saneamento gaúcha, com ágio simbólico de 1,15%. Com 11,5 anos no currículo como executivo da Gerdau - foi como vice-presidente executivo e diretor financeiro. Morou cinco anos em Porto Alegre com a família, no bairro Três Figueiras. Quando a coluna quis saber se é um pouco gaúcho, afirmou:
— Brinco que tenho green card e muitos amigos.Sinto falta deles e de ser convidado para comer churrasco nos domingos.
O ágio foi simbólico porque a Aegea sabia que seria a única candidata à compra da Corsan?
Normalmente, faz avaliação de como vai ser o certame. No dia do depósito, a Aegea assumiu que não haveria muita competição, apesar de ter se preparado para enfrentar uma concorrência maior.
Esse cenário mudou nos últimos meses, semanas ou dias? E por quê?
Diria que foi nas últimas semanas. É difícil avaliar quais foram as variáveis que outros potenciais interessados avaliaram. Nós tínhamos muita segurança sobre a participação há bastante tempo, porque conhecemos bem o mercado, vencemos a concessão para a parceria público-privada (PPP) na Região Metropolitana. Trabalhamos muito intensamente, tanto do ponto de vista da modelagem quanto do ponto de vista da estrutura de capital.
Só na Corsan, a Aegea tem compromisso de investimento estimado em R$ 12 bilhões, sem contar os R$ 24 bilhões nos blocos da Cedae que arrematou. Qual é a estratégia para garantir essa execução?
Esse é o número base do edital, para universalizar o esgotamento sanitário na região da Corsan, precisamos investir R$ 12 bilhões até 2033. Ao longo do tempo, vai se trabalhando da melhor forma possível para atingir cobertura. Desse valor, vamos aplicar cerca de 80% nos primeiros seis ou sete anos.
Para um diretor financeiro, ter um programa de investimentos de R$ 36 bilhões é desafiador, não?
É, no mínimo, divertido. Montamos uma estrutura para poder participar e ganhar o leilão da Ceade. Montamos uma estrutura societária apartada da Aegea, uma subsidiária não consolidada. A dívida é tomada por essa subsidiária e a estrutura de capital é feita lá. Na sexta-feira passada, assinamos um financiamento de longo prazo com o BNDES de R$ 19 bilhões, o segundo maior da história do banco, com prazo de 30 anos. É para demonstrar como a empresa pensa, com disciplina financeira para ter crescimento sustentável. No caso da Corsan, vamos fazer o mesmo.
Qual é a participação no consórcio da Perfin e da Kinea?
Não estamos abrindo a participação, mas haverá um aporte dos três acionistas na estrutura que será semelhante à do Rio, de uma subsidiária não consolidade, e a gestão operacional, claro, será da Aegea.
Os passivos trabalhistas e previdenciários da Corsan preocupam?
Não, porque estão identificados. Quando se faz a construção do preço para aquisição, leva-se em conta esses passivos.
A Aegea vai participar de alguma forma na solução de pendências jurídicas que impedem a assinatura do contrato?
Entendo que, nesse momento, quem está à frente das discussões é governo do Estado e companhia. A Aegea só vai acompanhar de longe.
Os usuários temem muito o aumento de tarifas; o fato de a Corsan já ter valores entre os mais altos do Brasil ajuda a afastar esse risco?
Digamos que já existe uma estrutura tarifária. Não existe razão para que se pense em aumento diferente do ordinário de qualquer tipo de serviço público, como acontece em todas as empresas.
Existe alguma intenção de fazer um programa de demissão voluntária (PDV)?
A gente não tem nada previsto em relação a isso. O que pode dizer é que em todos os lugares que passou, desde o início da participação, a Aegea foi uma grande geradora de empregos. No Rio, é diferente, assumimos uma concessão em 1º de novembro de 2021, com zero empregos. Hoje, temos 8 mil pessoas, das quais 4,5 mil de comunidades. Nosso objetivo é compartilhar prosperidade. A Aegea se vê mais como agente de geração de emprego.
A Aegea vai procurar os municípios que não assinaram aditivos com a Corsan?
Certamente, depois da assinatura do contrato, será uma das primeiras necessidades. É preciso regularizar os contratos que eventualmente não foram regularizados. Os que eventualmente não estão, vamos trabalhar para regularizar.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo