Sem confirmação ou sequer sinais muito claros de quem vai comandar a economia em um terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, as especulações sobre a montagem de governo começam a se espraiar para outros cargos.
Uma das apostas é um nome do mercado financeiro pouco conhecido até a campanha: Gabriel Galípolo, que até 2021 presidia o Banco Fator e, ainda em abril, organizou um dos primeiros jantares de Lula com empresários.
O Fator é um banco de investimentos, ou seja, atua como uma espécie de butique e também na intermediação de negócios. Formado em Economia pela PUC-SP, Galípolo é professor da UFRJ, pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e conselheiro da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Trabalhou na Secretaria Estadual de Economia e Planejamento no governo de José Serra e se aproximou do PT em 2010, quando ajudou a montar o plano de governo de Aloizio Mercadante na disputa em São Paulo.
No partido, é considerado uma espécie de "elo perdido" com a Faria Lima, a avenida de São Paulo que, por concentrar sedes de bancos e gestoras de investimento, simboliza fisicamente o mercado financeiro. Ainda frequenta a bolsa de apostas dos "colegas" para o Ministério da Fazenda, mas até por representar uma nova geração - tem 39 anos -, é mais cotado para um dos postos-chave da área econômica, como a presidência do BNDES.
Mas não é sem inquietação que o mercado especula seu nome. Galípolo ajudou a firmar a convicção de Lula sobre a extinção do teto de gastos e não é um entusiasta da autonomia do Banco Central que virou lei em 2021. Isso significa que o atual presidente, Roberto Campos Neto deve permanecer, depois da troca de governo, e ficar no cargo até 2024.
Compromissos de Lula na economia assumidos na Carta ao Brasil de Amanhã
1. No desenvolvimento econômico, repete a intenção de reunir os 27 governadores para definir a retomada de obras paradas e definir prioridades. O documento afirma que "os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo".
2. Menciona uma "Nova Legislação Trabalhista que assegure direitos mínimos – tanto trabalhistas como previdenciários – e salários dignos", elaborada após "amplo debate tripartite (governo, empresários e trabalhadores)". Pretende criar o Empreende Brasil, com crédito a juros baixos para micro, pequenas e médias empresas.
3. Promete salário mínimo forte, com "crescimento todo ano acima da inflação", o Novo Bolsa Família, com R$ 600 permanentes mais R$ 150 para cada criança de até 6 anos, o Desenrola Brasil, de renegociação para inadimplentes, isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, com reforma tributária. E é a mesma promessa feita por Jair Bolsonaro, em 2018, e nunca cumprida.
4. Afirma que buscará "transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, para uma agricultura familiar mais forte, para uma indústria mais verde". Assume "desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica", sem definir data.
5. Acena com a volta do Minha Casa Minha Vida, sem mencionar meta. Quer um um Novo PAC "para reativar a construção civil e a engenharia pesada" para habitação, transporte e mobilidade urbana, energia, água e saneamento.
6. Para reindustrializar o país, sinaliza com estímulos a indústrias de software, defesa, telecomunicações e outros setores de novas tecnologias. Aponta "vantagens competitivas que devem ser ativadas" nos complexos de saúde, agronegócio e petróleo e gás. Promete "atenção especial" para micro, pequenas e médias empresas e startups.
7. Na política externa, renova a aposta na integração regional, no Mercosul, no diálogo com os Brics, países da África, mas inclui União Europeia e Estados Unidos, que tiveram pouca atenção nos dois primeiros mandatos, para exasperação de diplomatas.