O francês Stéphane Maquaire, CEO do Grupo Carrefour Brasil há pouco mais de um ano, usou uma expressão facial para responder a uma pergunta da coluna sobre a reação à determinação do Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) que obriga o grupo varejista a vender só 14 das 388 lojas de supermercados, hipermercados e atacarejos comprados do Grupo Big (leia-se fundo Advent) no Brasil. Foi de alívio.
Maquaire esteve nesta segunda-feira (19) em Porto Alegre para a primeira reunião regional no país depois da operação, que reuniu cerca de 200 líderes locais da empresa. Com a operação, o Carrefour soma quase mil lojas (936) que têm faturamento anual estimado em R$ 100 bilhões e se converte no maior empregador privado do país, com 150 mil funcionários.
A capital que já marcou negativamente a imagem do grupo, com o espancamento seguido de morte de João Alberto Freitas, em novembro de 2020, agora passa a ser também uma referência positiva, com a ampliação do centro de serviços criado pelo Big para atender à toda a operação nacional do Carrefour. No entanto, Maquaire fez questão de dizer que o "não vamos esquecer" não foi apenas uma frase produzida para reagir à crise de imagem:
— Foi uma tragédia para toda a organização, não só no Brasil. Paramos para refletir sobre nossa maneira de trabalhar e como é possível, na nossa vida cotidiana, combater o racismo e reparar a desigualdade, aprofundando temas como diversidade e inclusão.
O executivo também confessou que, embora o Carrefour já tenha 30% de mulheres em cargos de liderança, ainda não conseguiu levar pessoas negras ao topo da empresa no Brasil. Pretende chegar lá, em parte, com ações com as quais se comprometeu como forma de reparação à morte violenta de João Alberto, como a distribuição de bolsas de estudo no valor de R$ 68 milhões não só para graduação, mas também mestrado e doutorado, como especificou Maria Alícia Lima, diretora-executiva de Relações Institucionais e Comunicação.
Na época, lembrou Maquaire, ele estava na Argentina, onde também foram adotadas medidas para que iniciativas de inclusão e diversidade entrassem na gestão do dia a dia. Com passagens por Argentina, onde a inflação anda na casa de 60% no acumulado de 12 meses, e no Brasil, onde chegou a dois dígitos antes de ceder, o executivo admitiu que a gestão do Carrefour nesses dois países virou referência, neste momento, para uma Europa também assolada pela inflação.