Precedida por certo suspense, em que economistas consideravam mais provável a manutenção do patamar atual, mas não descartavam nova elevação 0,25 ponto percentual, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu interromper o maior ciclo de alta de juros em 23 anos ao manter a taxa Selic em 13,75% ao ano.
Mas confirmando que o suspense não era gratuito, foi uma rara decisão sem unanimidade, a primeira no governo Bolsonaro: sete integrantes (Roberto Campos Neto, Bruno Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Guillen, Maurício Moura, Otávio Damaso e Paulo Neves de Souza) votaram pela manutenção, enquanto outros dois (Fernanda Guardado e Renato Brito Gomes) propuseram alta de 0,25 ponto, para 14% ao ano.
O resultado foi um comunicado em que o BC não anuncia "encerramento", mas "interrupção' do ciclo: "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".
Antes, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) havia afastado o espantalho de uma alta de 1 ponto percentual de uma só vez, como chegou a se especular. Optou por repetir a dose — alta, para os padrões americanos — de 0,75 ponto percentual pela terceira vez. A taxa de referência por lá ficou entre 3% e 3,25%.
A decisão tirou pressão sobre o Copom, que aproveitou para interromper o ciclo que levou o juro básico de 2% para 13,75% em apenas 17 meses. Foram 11,75 pontos percentuais em 12 elevações seguidas. Foi necessário para tentar domar a inflação que chegou a dois dígitos, depois recuou com o corte de alíquota de ICMS sobre gasolina e energia. Os alimentos, no entanto, seguem pressionados.
No comunicado, o BC avisou que "se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação". Também chamou atenção a menção de que a decisão "também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", ou seja, foi considerada a desaceleração esperada para os próximos meses.