Há dois meses, o BTG Pactual assumiu um novo modelo de negócio no Brasil: é a "rede neutra" de fibra ótica da V.tal, resultado da compra, por R$ 12,9 bilhões, da infraestrutura que pertencia à Oi, dentro do plano de recuperação judicial da companhia.
Conforme Rafael Marques, diretor de marketing da V.tal, está nos planos da empresa investir R$ 30 bilhões até 2025 para reforçar a rede adquirida. O controle da operação, detalhou à coluna, é de fundos do BTG Pactual.
A compra incluiu toda a rede de fibra ótica que antes era exclusiva para uso da Oi, abrangente porque a empresa opera do Rio Grande do Sul ao Norte do país. Com o negócio, a Oi passa a alugar essa estrutura para vender seus serviços de banda larga, explica:
— Agora que a gente comprou, estamos mudando a arquitetura para poder compartilhar essa infraestrutura. É um dos princípios da economia compartilhada, pessoas e empresas não precisam mais ser donas do ativo, podem só usufruir do ativo. Um ativo de fibra ótica exige muito capital, obras complexas, licenças. Faz mais sentido ter uma estrutura só.
No final desta semana, Marques participa do Link ISP Gramado, na serra gaúcha. Sincero, diz que vem exatamente apresentar a V.tal, que ainda é pouco conhecida no Brasil. E admite que os eventos do segmento também são bons para identificar possíveis clientes. O negócio é só entre empresas, não chega ao consumidor final. Já tem 40 contratos firmados, mas quer mais, avisa o executivo:
— Queremos nos apresentar a outros provedores, que são importantes para dar essa caráter de rede neutra, ou seja, não é propriedade de nenhuma grande marca. Só atuamos no atacado. Quem vende para a pessoa física são nossos clientes. A fibra ótica é a grande viabilizadora da conectividade, porque é essa rede que chega na base das antenas de 5G que já estão sendo instaladas.
Das 17 milhões de "casas passadas" (domicílios onde a rede de fibra já chega pronta), 3,5 milhões já estão conectadas, relata Marques, ou seja, ainda há espaço para muitos contratos. O executivo diz que a meta de investir R$ 30 bilhões até 2025 tem por objetivo alcançar 34 milhões de unidades das cerca de 90 milhões de endereços do país.
— O mercado já está respondendo muito bem, depois da corrida para a internet que ocorreu durante a pandemia. Está todo mundo trabalhando e estudando online. É um modelo de negócios inovador, mais eficiente, portanto mais sustentável, que ajuda a alcançar a tão sonhada digitalização do país — diz Marques.
O executivo lembra que as redes neutras surgiram no Reino Unido em 2005, por exigência do órgão regulador de que a British Telecom segregasse sua rede de fibra e sua base de clientes. Depois, foi a vez do governo da Austrália adotar a mesma medida. Depois, outros países aderiram ao modelo, como Itália e República Tcheca.
— Uma peculiaridade do Brasil é a quantidade de provedores locais que temos, porque as grandes operadoras acabaram deixando lacunas. São cerca de 15 mil, é um mercado muito quente, muito pulsante, que agora está em fase de consolidação (aquisições no segmento).