A resposta, neste caso, é simples e curta: é o preço do sucesso. A rápida e volumosa adesão ao Pix transformou a forma de pagamento em uma nova "poupança", espécie de pilar da economia que não pode ser derrubado.
Nesta semana, o Sindicato Nacional de Funcionários do Banco Central (Sinal) ameaçou interromper ou atrapalhar as operações do Pix caso o reajuste salarial para servidores federais beneficie apenas os policiais federais e deixe a categoria sem aumento.
A ameaça dos funcionários do BC é real e imediata, embora ilegal. Servidores têm direito a greve, desde que garantam a continuidade da prestação de serviços ou atividades essenciais à comunidade. É um dispositivo constitucional, previsto nos artigos 9º e 37º.
O alvo de parte dos servidores é o mecanismo que, no quarto trimestre de 2021, informou o BC nesta semana, superou a movimentação por meio de cartões, tanto de crédito quanto de débito. Foi a primeira vez que o Pix ficou acima de todos os meios de pagamento, depois de ter superado os boletos. As modalidades Saque e Troco, que nasceram cercadas de dúvidas, foram abraçadas pelos porto-alegrenses, que transformaram a capital gaúcha na cidade que mais usou esses instrumetos.
O sucesso do Pix também o transformou em alto de mentiras de pré-campanha. Circularam nas redes sociais imagens que simulavam notícias de sites de jornalismo sobre a intenção do virtual candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de "acabar com o Pix" caso vença a eleição. O G1, veículo alvo da falsificação, negou que tivesse noticiado (leia aqui) e o Instituto Lula publicou nota em redes sociais apontando a mentira e já fazendo marketing eleitoral, afirmou que "Lula nunca suspenderia o Pix, afinal, ele sempre apostou nas políticas de inclusão das pessoas mais pobres na economia".
O episódio lembrou uma fake news mais antiga, quando não tinha esse nome e antes da existência das redes sociais. Na corrida eleitoral de 1989, a primeira com voto direto depois da ditadura, o candidato Fernando Collor afirmava que, se Lula vencesse, confiscaria recursos da poupança. Collor venceu e ele mesmo fez o confisco. Anos mais tarde, já próximo do ex-adversário, confessou que já preparava a medida quando a atribuía ao outro candidato (leia aqui).
É importante discutir ameaças ilegais e mentiras de campanha, que virão de todos os lados, até outubro, para lembra uma regra essencial nesses momentos: toda informação deve ser checada em fonte confiável. Se o Pix é a nova poupança, será alvo de muita boataria até o final de outubro.