O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Sócio-fundador do Family Oficce Privatto, criado para redirecionar os investimentos familiares após a venda da Ipiranga, em 2007, Eduardo Tellechea Cairoli analisa de perto o mercado de capitais. E traça o panorama para o cenário de juros e inflação.
Como os primeiros meses do ano consolidaram as projeções para juros e inflação?
O patamar dos juros de curto prazo foi extrapolado. Seguimos em um cenário anormal, que é dado pelos prêmios de risco de curto prazo estarem maiores do que os de longo prazo. Isso não é normal, por uma razão muito óbvia, pois quanto mais distante o panorama, maior é a incerteza e, com isso, eleva-se o prêmio de risco. O que observamos, agora, no país é exatamente o contrário.
E para a inflação em 2022?
A inflação é o pior “mal” que um país pode ter, porque ela corrói a renda. Passamos na década de 1980 por uma doença, que foi a hiperinflação, agora, controlada. A nossa memória recente faz com que as pessoas esqueçam desse fato, mas é sempre indicado olhar com muita prudência para a inflação. Todo o mundo está em um processo inflacionário. Nos Estados Unidos, em 12 meses, fica acima de 7% o que para eles é algo extremamente elevado e já se preveem sete altas de 0,25%, o que levaria os juros norte-americanos ao patamar de 1,75% ao ano. Quando olhamos para o Brasil, isso se dá pela pressão nas commodities e na demanda, com alguns produtos e insumos fora de controle, a exemplo dos semicondutores, o que acaba pressionando toda a cadeia de produção.
Quais são os reflexos disso?
A Selic em alta gera efeitos para o crédito e para produtos que estão de fora dessas cadeias de commodities. Por outro lado, o juro alto atrai mais capital estrangeiro, o que, por consequência, segura o câmbio. No acumulado do ano, o saldo de entrada é positivo em R$ 14,8 bilhões de investimentos estrangeiros em bolsa. O Brasil está muito barato no momento. O preço está abaixo do que indicam os resultados operacionais das empresas. Temos algumas questões positivas, mas não quer dizer que vamos conseguir segurar a inflação, pois há muita dependência externa.