Com a venda do Complexo Térmico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo (SC), oficializada na segunda-feira (31), a multinacional francesa Engie só mantém uma usina abastecida a carvão no Brasil: a UTE Pampaa Sul, em Candiota, concluída em 2019.
Conforme o fato relevante da Engie, a Jorge Lacerda, com capacidade instalada de 857 megawatts (MW), foi vendida por R$ 325 milhões para a Diamante Holding. Para comparar, quando a Pampa Sul foi construída, o investimento para a potência de 345 MW - menos da metade do complexo catarinense, havia sido estimado em R$ 2 bilhões.
A explicação está em outro trecho do comunicado da Engie ao mercado, em que o diretor presidente e de relações com investidores, Eduardo Sattamini, afirma que "a venda do CTJL permitirá uma transição gradativa para a economia da região sul do Estado de Santa Catarina, reduzindo os potenciais impactos socioeconômicos em relação ao processo de descomissionamento".
Em bom português, "descomissionamento" significa encerramento das operações, ou seja, a usina histórica catarinense terá o mesmo fim das térmicas de Charqueadas, São Jerônimo e Fase A de Candiota, no Rio Grande do Sul: vai deixar de existir.
Ao justificar a venda, a Engie afirma que "é um importante passo para o gradual processo de descarbonização" e "está alinhada ao propósito global do Grupo Engie de agir para acelerar a transição para um mundo neutro em carbono, direcionando as suas atividades para a geração de energia renovável, infraestrutura e gás".
Conforme a Engie confirmou à coluna, por meio da assessoria de imprensa, Pampa Sul segue à venda e "recebendo propostas". Como a coluna registrou na época da conclusão da obra, a usina gaúcha enfrenta problemas de conexão devido ao atraso do reforço do sistema de transmissão (transporte) de energia no Estado.
Apesar da aceleração nas obras pelos grupos que assumiram os trechos que deveriam ter sido feitos pela Eletrosul, ainda há restrições. Com potência para gerar 345 MW, a Pampa Sul produz cerca de metade dessa capacidade. No mais recente relatório diário do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), de 29 de agosto, a UTE conseguiu superar em 9,85% a previsão para a data, gerando 192,23 MW dos 175 MW previstos.
Com o sistema elétrico da Região Sul mais dependente de energia gerada no Nordeste, o que embute perdas ao redor de 15%, ter uma unidade geradora operando a pleno ajudaria a equilibrar oferta e demanda de eletricidade e, portanto, a reduzir o risco de apagões localizados.