Foi uma semana difícil para o governo Bolsonaro na CPI da Covid, mas vieram do Planalto medidas que acentuaram seu próprio desgaste.
Houve duas demissões sumárias no Ministério da Saúde em 10 dias, o que sugere que a CPI está tocando em pontos sensíveis, apesar de seus atritos internos e erros de avaliação.
Entre 29 de junho e 8 de julho, foram exonerados o diretor de Logística, Roberto Ferreira Dias, apontado como suposto cobrador de propina pelo cabo de Alfenas, Luiz Paulo Dominguetti Pereira – testemunha de baixa credibilidade, como agora se sabe – e o diretor do Departamento de Imunização, Lauricio Monteiro Cruz, suposto elo com tratativas sobre vacinas com um "reverendo", no mesmo caso exótico, para usar uma palavra educada.
No caso de Ferreira Dias, a acusação pareceu uma desculpa para um desligamento já desejado pelo governo Bolsonaro. No de Monteiro Cruz, um veterinário indicado para o cargo pelo ex-ministro Eduardo Pazuello, que segue ocupando uma sala no Palácio do Planalto, a motivação é menos clara. Mas se a CPI tem "sete pessoas que não estão preocupadas com a verdade" – para não repetir expressões menos educadas – segundo o presidente, por que até agora já provocou dois desligamentos sumários?
Quando a CPI começou, os governistas queriam "seguir o dinheiro" repassado aos Estados, sobre o qual havia suspeitas de malversação. Embora essa hipótese não tenha sido afastada –até porque o Senado deve examinar atos da União, não das unidades da federação –, a comissão passou investigar episódios em que recursos públicos só não foram dilapidados porque servidores travaram o processo, como está comprovado ao menos no caso da Covaxin.
Enquanto cartas vão caindo no castelo sem gestão eficiente no Ministério da Saúde, comprometendo inclusive outros auxiliares de Bolsonaro – a legitimidade de um documento apresentado pelo secretário da Presidência, Onyx Lorenzoni, está em xeque –, o presidente segue desafiando a liturgia do cargo abusando de expressões grosseiras.
Uma das primeiras lições de qualquer boa educação é a de que respeito é uma via de duas mãos: para obtê-lo, é preciso praticá-lo. Bolsonaro se elegeu com forte discurso anticorrupção, mas desrespeita esse compromisso ao ignorar a necessidade de apertar os controles sobre os estimados R$ 20 bilhões em gastos com vacinas e de dar satisfação a seus eleitores sobre como aplica, na prática, suas promessas de campanha.