A posição de um CEO de uma empresa de geração de energia, inclusive solar, é tão fora da curva que causou uma represália. Por defender o fim de subsídios para parques eólicos e fazendas solares, Antonio Bastos Filho, CEO da Omega Energia, foi expulso da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
— Fui a primeira pessoa do setor de renováveis que defendeu publicamente o fim dos subsídios — disse à coluna o executivo que, no ano passado, comprou dois parques eólicos no Estado em Chuí e Santa Vitória do Palmar.
A justificativa de Bastos é simples: o desenvolvimento das tecnologias e do mercado chegou a um ponto que dispensa subsídios para se viabilizar, e a agora é hora de pensar na sociedade e nos consumidores.
— As pessoas ficam curiosas, perguntam porque sou contra um subsídio que me beneficia, digo que estou convicto de que o Brasil pode ser tornar uma referência em energia renovável. Para isso, precisamos de um mercado competitivo e livre.
Embora seja óbvio, porque a empresa investe no segmento, Bastos faz questão de dizer que ser contra subsídio é muito diferente de ser contra a energia solar. O Brasil, pondera, já expande a base desse tipo de geração há anos, tanto que conseguiu viabilizar uma redução de custo em equipamentos e instalação que transformou em energia barata.
— A discussão real é quem paga a conta de quem. Você pagar a conta de um terceiro não é bacana, não é bom para o país — sustenta.
Conforme Bastos, 98% dos consumidores de geração distribuída são empresas ou consumidores residenciais de alta renda — no caso, com contas de luz mensais de no mínimo R$ 330. Outro argumento em que baseia sua crítica aos subsídios é o fato de os projetos de geração distribuída terem retornos mais elevados do que outros projetos de energia:
— Estão por volta de 30% ao ano para um Brasil que tem juro de 3,5%.
O executivo sustenta que, mesmo pagando encargos, a geração distribuída é viável no Brasil. Pondera que quem chama a retirada de subsídios de "taxar o sol" não poderia estar mais enganado. Sustenta que o fato de não cobrar encargos de uma pequena parcela dos consumidores onera todos os demais:
— São 300 mil consumidores onerando 80 milhões. Isso gera um sobrecusto para a enorme maioria e taxa os mais pobres. Divide com os demais uma conta que teria de pagar e não paga. Essa pequena fatia recebe R$ 10 milhões ao ano em subsídios de todos os outros consumidores.
Diante dessa defesa tão veemente, a coluna fez a ponderação que considera mais relevante: como o setor elétrico é um cipoal de penduricalhos e encargos que sobem e descem de árvores ao sabor do vento do lobby, faria sentido extinguir o subsídio a energias renováveis e manter, por exemplo, o para carvão?
— Tem uma frase em Minas que é 'comer o boi pelos bifes'. Não se pode justificar um novo subsídio com base nos outros. Temos de resolver esse e abrir caminho para solucionar todos os outros. A Omega tem dito ser contra o subsídio e conseguiu avanço em eólica e solar de grande porte. Temos feito nosso papel. Em alguns casos e momentos, subsídios são justificáveis. No começo da eólica e da solar, fazia sentido. Hoje, não é mais o caso.
Entenda a polêmica entre "taxar o sol" e "taxar o pobre"
Desde o ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estuda mudanças nas regras da chamada geração distribuída, feita por pequenos investidores que compram equipamentos para gerar energia a partir da luz do sol. Para incentivar o uso dessa fonte renovável, esses investidores são isentos de encargos do setor. A proposta em discussão é de que o investidor em GD passe a pagar pelo uso da rede de distribuição e também os demais "penduricalhos" da conta de luz. A parte que seria devida por esse contingente, hoje, é dividida pelos demais, que não têm sistemas de GD.
Especialistas advertem que, se a proposta avançar, vai desestimular investimentos em uma fonte de energia limpa. A expansão da GD no Brasil já gerou investimento ao redor de
R$ 7 bilhões. Mas assim como há casos de consumidores que fazem instalações em suas casas, empresas e fundos se beneficiam dessas regras e deixam a conta para ser dividida pelos demais.