O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Em um contexto de dificuldades na economia e avanço da inflação, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) resolveu seguir o que já aparecia no radar do mercado financeiro. Ao final da reunião desta quarta-feira (20), confirmou a manutenção da taxa básica de juro, a Selic, em 2% ao ano – menor nível da série histórica. O que chamou atenção de analistas foi o tom adotado pelo colegiado após o encontro.
Em seu comunicado, o comitê derrubou a indicação de que a Selic permanecerá sem alta nos próximos meses. Essa sinalização, no jargão financeiro, recebe nome um tanto quanto complicado: forward guidance – ou orientação futura. Calma, a coluna explica.
No ano passado, ao reduzir a taxa para 2%, o comitê havia usado a expressão para se comprometer com o juro em nível baixo, sem avanços, desde que o cenário não trouxesse grandes riscos à inflação. Agora, a indicação caiu.
Por trás da derrubada, está o impacto dos alimentos, que ficaram mais caros durante a pandemia e inviabilizam novos cortes no juro – ou a manutenção em 2%.
"Como consequência, o forward guidance deixa de existir e a condução da política monetária seguirá análise usual do balanço de riscos para a inflação", diz o colegiado.
É verdade que não há um descontrole de preços neste momento, mas a pressão incomoda, já que está relacionada a produtos básicos. Esse movimento atinge, sobretudo, o custo de vida dos mais pobres. Proporcionalmente, os mais vulneráveis comprometem parcela maior da renda para conseguir comprar comida.
Analistas entendem que a Selic subirá ao longo de 2021. Só não há certeza sobre o momento em que o avanço será confirmado. O Copom fez questão de ressaltar que a retirada do forward guidance "não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros". O comitê lembra que a economia atravessa período complicado, com incertezas no horizonte. Resta aguardar pelos próximos capítulos.