Quando a coluna deparou com o anúncio ao lado, teve um pequeno choque. Segundo Fernanda Aldabe, fundadora e sócia da Bistrô, uma agência de publicidade de Porto Alegre, o objetivo era um pouco esse, mesmo. E conta por que:
– A agência tem 13 anos, mas há oito, me dei conta de que sou mulher branca, meu sócio é gay branco, mas mesmo com 12 pessoas na equipe, não havia negros, não havia PDCs (pessoas com deficiência). Aí começamos a agir para melhorar a diversidade.
Graças a esse "movimento de dentro para fora", como Fernanda gosta de pontuar, há algumas semanas a Bistrô atingiu sua meta.
– Conseguimos suprir todas as vagas. Tem PCD, tem negros, tem gays. Aí achamos que poderíamos oferecer vagas outra vez para homens brancos héteros – relata.
Fernanda avalia que, ao longo dos últimos anos, políticas públicas como cotas e Prouni aumentaram a quantidade de negros nas universidade, que passaram a mandar currículos. O resultado, segundo a fundadora, é uma agência "diversa e mais aberta". As posições políticas – no sentido de fazer essas escolhas, não no sentido partidário – da Bistrô são públicas nas redes sociais e não constrangem ninguém porque as pessoas sabem o que esperar da empresa.
– A gente usa um site contador de diversidade, que muda de seis em seis meses. Fazemos uma pesquisa anônima entre as pessoas para ver se está faltando alguma minoria, que às vezes são maioria. Se está, a gente deixa em vermelho e procura esse perfil, lança vaga falando sobre isso. Já temos mulher em gerência, com salários iguais, diretoria com negro, duas mulheres e um homem gay.
Assim, com todos os indicadores de diversidade em verde, a Bistrô quis fazer o que Fernanda chama de "brincadeira":
– É um mote publicitário para chocar, mesmo. Quando a pessoa lê embaixo, entende a brincadeira.
Na empresa que faz questão de chamar de agência de publicidade – nome em desuso no segmento –, Fernanda relata que já passou por situações claras de preconceito, com cliente querendo "branquear" pele de modelo negra, outro que conversava com uma mulher encerrar a conversa com a pergunta "com quem eu falo agora", sugerindo que a negociação final teria de ser com um homem. Com 95% dos clientes gaúchos, a Bistrô quer ampliar o mercado em São Paulo e usou a campanha do "homem branco hétero" para abrir portas.
– Já atendemos, mas queremos crescer lá. Em São Paulo, fizemos mobiliário urbano com a campanha. Aqui, o público ainda não está preparado para esse tipo de mensagem. Se homens brancos héteros quiserem disputar uma vaga, serão bem-vindos, há vários na equipe. Muita gente não está entendendo, está debochando, mas estamos fazendo a nossa parte.
O vice-presidente de criação da Bistrô, Alessandro Garcia, apareceu como um dos 20 mais importantes criativos negros do Brasil e comanda o podtcast Negro da Semana, entre os 20 mais ouvidos no assunto no país.