A coluna convidou Maurício Santana para ajudar na reflexão do episódio que resultou na morte de um homem negro em Porto Alegre na noite de quinta-feira. Jornalista, publicitário, cartunista e escritor, é diretor executivo da Revista Raça e autor do livro Empresas Antirracistas, para o qual entrevistou líderes de grandes empresas nacionais e internacionais, inclusive o Carrefour
Temos um problema institucional na sociedade brasileira e no mundo, que é o racismo estrutural. Está em todas as organizações. Respiramos esse ambiente todo o tempo, em todo o mundo. Está no banco onde somos mal-atendidos, nos olhares em qualquer lugar a que chegamos. Quem consegue morar em um prédio de classe média corre o risco de ser maltratado pelo porteiro.
Não seria diferente em uma loja, infelizmente, seja grande ou pequena. Isso ocorre porque essas instituições não estão separadas do mundo. E é por isso que se diz que o racismo está institucionalizado. No caso do Carrefour, as responsabilidades tem que ser analisadas profundamente.
Mas existe outro componente, além do racismo estrutural. Vivemos em uma sociedade em que a violência e a tirania dominam o cotidiano de nossas vidas. As pessoas estão pedindo para se armar. As pessoas estão com a violência à flor da pele. Esse episódio juntou a violência que negras e negros sofrem no país de tudo quanto é jeito, com o racismo estrutural e institucional.
O que se deve fazer quando ocorre uma tragédia como essa? Como buscar uma saída para isso tudo? Em um momento de extrema injustiça, depois que a desgraça está feita, é essencial que todos os responsáveis sejam punidos. Ao que consta, a empresa tomou as medidas cabíveis. Desligou por completo a empresa que presta serviços de segurança (a Vector).
É preciso punir os agressores, que agora podem ser chamados de assassinos. Mas uma outra coisa que ainda é necessária – ainda não foi anunciado mas tive a informação de que vão fazer –, é rever todas as medidas de segurança que compõem os contratos das empresas que prestam serviços.
Isso é o mais importante no Brasil: o que você faz diante de uma tragédia como essa? Nos Estados Unidos, o assassinato de George Floyd fez com que o maior pedido do movimento Vidas Negras Importam fosse a revisão de todos os protocolos de abordagem policial. Então, o que o Carrefour e todas as empresas precisam fazer é rever sua atuação. Temos de cobrar medidas concretas para que isso não se repita.