Com sobrenome ligado ao aeromóvel criado por Oskar, seu pai, Marcus Coester comanda os negócios da empresa familiar na área de mobilidade, mas também a produção de equipamentos de automação destinados especialmente ao segmento de infraestrutura. Na pandemia, o CEO da Aeromovel Brasil ajudou a criar o movimento Brothers in Arms, que conectou disponibilidades de empresários a necessidades do sistema de saúde. Na presidência da Câmara Brasil-Alemanha no Estado e com negócios nos Estados Unidos, usa a exposição internacional para relativizar os problemas da pandemia.
Isolamento
" Fechamos a empresa logo que começou a pandemia, durante 10 dias, para fazer um planejamento de como conduzir a situação. Hoje estamos operando (em São Leopoldo), o setor não foi muito afetado. Temos entre 200 e 300 clientes da área de infraestrutura, 60% de saneamento. Como são projetos de longo prazo, não pararam. É uma situação da qual não dá para reclamar. Por isso, temos a responsabilidade de manter uma operação de excelência. Criamos um protocolo para que a empresa ficasse totalmente segura, fomos quase paranoicos. Se surgir qualquer sinal de gripe ou resfriado, o funcionário fica em casa, com acompanhamento e muitos testes. Fazemos um, dois, três testes, até que esteja habilitado para voltar. O curioso é que tivemos pessoas com casos na família que não se contagiaram. Não tivemos nenhuma confirmação entre os funcionários. Todos estão sendo muito compreensivos e solidários. Há capacidade para 500 pessoas, mas temos 80. Interrompemos um projeto para compactar a produção. Agora, como a regra é espalhar, ainda vamos mudar o layout, mas será um novo projeto. "
Racionalidade
"A pandemia mudou tudo. Antes, jamais pensaria em fazer a primeira visita a um cliente de forma virtual. Cansei de ir a São Paulo, fazer duas reuniões e voltar. Houve uma baita racionalidade. Hoje faço o mesmo, claro que com prós e contras, no escritório ou em casa. Perde-se muito do trato do dia a dia, mas se ganha tempo e reduz custos."
Solidariedade
"Esse vírus ainda tem um grande elemento de desconhecido, é muito imprecisa a forma como se comporta. Logo no começo, quando o vírus chegou, deu pânico, estava todo mundo muito inseguro. Foi no tempo de maior confinamento, no meu caso, que surgiu o Brothers in Arms. Tenho uma irmã que é médica de emergência no HPS, nas conversas soube da deficiência de EPIs. O Luís Villwock (cocriador do grupo) também tem uma irmã médica e pensamos em mobilizar, porque, se os médicos se contaminam, têm de ir para a quarentena, e isso é um passo para o colapso hospitalar. O projeto mobilizou muita gente, a pandemia despertou uma solidariedade e um desprendimento surpreendentes. Passamos a buscar e a produzir itens simples, como máscaras e face shields, e a fazer manutenção de respiradores, recolocando em funcionamento os que estavam parados. Hoje já houve um reequilíbrio desse processo. No Estado, surgiram vários fabricantes de máscaras. Em uma semana chegamos a mil voluntários, os médicos falavam com os engenheiros para trocar informação. Foi importante ajudar quem está na linha de combate."
Reflexões
"A primeira é a fragilidade de todas as regras sociais que temos. Houve grandes quebras de paradigmas. Quando se pensaria em fechar aeroporto? Agora, parece normal que esteja parado. O vírus é um inimigo sorrateiro que derruba estruturas que aparentemente eram muito sólidas. Depois, a questão da saúde. Temos familiares, pessoas queridas no grupo de risco. Uma das cenas que mais me comoveram foi ver a prefeitura colocando pias na entrada de comunidades no Rio de Janeiro. Como as pessoas vão lavar as mãos a cada 20 minutos se não têm pia em casa? Isso mostra as debilidades sanitárias do Brasil, que põem muita gente em risco. A pandemia escancarou a dificuldade social do Brasil. Deu uma boa balançada em conceitos, mostrou diferentes faces de diferentes pessoas. Dos funcionários comprometidos e de empresários que colocaram o econômico antes da saúde, o que é completamente fora da lógica. É o colapso da saúde que leva ao colapso econômico. Não tem sentido permitir descontrole, porque virá a conta. A consequência econômica será pior. Nos contatos de negócios nos Estados Unidos, Nova York foi o epicentro, que agora se desloca para outros Estados. E os nova-iorquinos não entendem como os outros estão negligentes, sem fechar."
Leitura, vídeos
"Tive de ler muito sobre a pandemia, porque tem de conduzir a situação na empresa, tomar decisões. Foi preciso estudar a fundo o que é seguro, o que não é. Outro tema importante foi o da transformação digital. Então, sobraram pouco tempo e energia para leituras específicas ou simbólicas. Tivemos de ampliar a capacidade de uso simultâneo de voz e dados, adotar ferramenta de trabalho remoto. A mudança de layout da empresa saiu das prioridades e entraram a infraestrutura de dados e a montagem de um estúdio para nossos cursos. A sala de aula mudou, vamos usar Moodle (sistema usado em universidades)."
Lazer
"Nisso tenho uma sorte grande, temos uma propriedade rural da família, em São Jerônimo, e estamos com área de plantação de oliveiras. Ter essa atividade rural ajudou muito. Na sexta-feira, vamos para lá, tem muita atividade de poda nessa época, eu e os filhos pegamos junto. Isso fez bem nessa temporada."
Aprendizado
"Vai muito na linha de ter mais flexibilidade com as certezas, que na verdade não existem, tanto no lado empresarial quanto no pessoal. Uma situação dessas mostra que têm de administrar um dia de cada vez. E também agradecer muito, a gente vê fragilidade em tudo, inclusive na vida, que parece algo tão sólido. Tive um amigo no Rio que morreu de covid-19. Conheço várias pessoas que estiveram na UTI, em estado grave. Então, tem de valorizar, ajudar as pessoas. O mais bacana foi a solidariedade que surgiu para sairmos juntos dessa encrenca. Todos os países passaram por situações parecidas. A gente se volta para a relatividade das coisas. Tudo o que era uma norma inabalável caiu por terra."