Pelo tamanho e cronograma do corte, o Banco Central tomou uma decisão cautelosa. Não fez como o Federal Reserve (BC dos Estados Unidos), que derrubou o juro a zero em decisão extraordinária, às vésperas da reunião prevista para terminar nesta quarta-feira (18), como no Brasil. Isso criou expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) tomasse decisão semelhante, ainda na segunda-feira (16). As apostas de corte de 0,25 ponto percentual decolaram para até 1 pp.
Mas mesmo adotando um corte salomônico, na metade do caminho, a decisão do Copom cria uma expectativa histórica: o Brasil poderá ter pela primeira vez uma taxa de juro negativa, ou seja, abaixo da inflação. Isso quer dizer que títulos remunerados pela Selic podem sequer recuperar valor suficiente para manter o poder de compra.
Em seu comunicado, o BC afirma que "no cenário com taxa de juros constante a 4,25% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,75/US$*, as projeções (para o IPCA) situam-se em torno de 3% para 2020 e 3,6% para 2021".
Como o juro será menor e o câmbio, provavelmente maior, não é impossível que a inflação acumule 3,76% em 12 meses. Aí se configuraria o juro negativo, ainda que por pouco.
Juros negativos costumam ser monopólio de países ricos e com excesso de poupança, porque. Ao estimulam reserva de valor. Além disso, com a descida de mais um degrau na escada da mínima histórica, o BC assume o risco de acentuar a fuga de dólares do país em um momento delicado. Mas como avaliavam analistas antes da decisão, está era uma "sinuca de bico" para o Copom. O peso da crise provocada pelo coronavírus foi maior. É correto, o que não quer dizer que não embuta perigo.
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