Comunicada oficialmente pela Petrobras no final da última sexta-feira (20), a venda da BSBios, produtora de biodiesel com unidades em Passo Fundo e Marialva (PR), ocorre em momento de expectativa de que a mistura obrigatória nos postos de abastecimento, hoje de 11%, evolua em 2020 para 12%. Esse percentual é o total de combustível renovável adicionado ao diesel de petróleo, política pública criada na primeira década dos anos 2000, com mistura obrigatória a partir de 2008.
Além da Petrobras, que tem metade da BSBios, a empresa RP Biocombustíveis, que tem como sócio principal o gaúcho Erasmo Battistella, também aceitou vender sua fatia. Isso significa que o comprador terá total autonomia de gestão da produtora de biodiesel, o que deve facilitar o negócio. Na primeira vez em que a Petrobras tentou vender sua parte, em 2017, Battistella fez questão de dizer que disputaria a compra.
Agora, com um investimento de US$ 800 milhões no Paraguai para produção de biodiesel e querosene sintético, o empresário gaúcho aceita a ideia de sair do projeto que concebeu em Passo Fundo. Foi lá que Battistella recebeu, no último dia 6, a sexta-feira que se seguiu à reunião de cúpula do Mercosul, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez.
Conforme informações de mercado, caso não apareça uma oferta interessante de um terceiro, a RP Biocombustíveis preenche os requisitos do prospecto divulgado pela Petrobras para ser o potencial comprador dos 50% da estatal. Ou seja, há dois destinos possíveis para a BSBios: ou um comprador de 100% de fora da empresa ou a aquisição dos 50% da PBio por Battistella. No prospecto completo da operação, há previsão para isso:
"Os acionistas, no contexto da transação, abriram mão dos seus direitos de preferência e tag along, previstos em Acordo de Acionistas. Em razão disso, a RP Bio, a seu exclusivo critério, poderá participar do Processo Competitivo em igualdade de condições com os demais participantes."
Battistella não comenta, conforme combinado com a Petrobras, que comandará a operação. Conforme João Luiz Zuñeda, sócio-fundador da consultoria Maxiquim, a perspectiva de elevação desse percentual para 15% em 2023, já aprovada no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), reforça o potencial de mercado para fechamento do negócio:
– A BSBios é uma das empresas mais estruturadas no segmento, tanto em gestão quando em tecnologia. O Brasil tem uma grande frota de caminhões movidos a diesel, ainda é um país movido a estrada.
Na lista de possíveis candidatos à compra, Zuñeda aponta tanto grupos da área de distribuição buscando a verticalização (presença em outras etapas da produção), como Ultra e Raízen – ambas interessadas também na compra de refinarias que deve ser fechada em 2020 –, quanto empresas internacionais de olho na chamada "pegada de carbono", ou seja, em fontes de energia mais limpas.
Por isso mesmo, a decisão de sair do mercado de biocombustíveis, anunciada pela Petrobras, parece incoerente. Zuñeda avalia que a decisão da estatal é "normal" diante da disposição de se focar na exploração de petróleo e gás natural. Esse combustível ainda pouco usado no Brasil, reforça, é uma aposta de prazo mais curto das petroleiras como "alternativa verde". Embora o gás também tenha origem fóssil e não seja renovável, sua queima para produção de energia ou para abastecer veículos gera menos emissões do que as provocadas por gasolina ou diesel.
O que está à venda
Usina de biodiesel em Passo Fundo, com capacidade de produção de 288 milhões de litros ao ano, com previsão de ampliação para 414 milhões em 2020, capacidade de esmagamento de 1.152 mil toneladas de soja ao ano e capacidade de armazenamento de 120 mil toneladas de grãos, 60 mil toneladas de farelo e 7,5 milhões de litros de biodiesel.
Usina de biodiesel em Marialva, com capacidade de produção de 414 milhões de litros por ano e capacidade de armazenamento de 3 milhões de litros de óleo vegetal, 1,5 milhões de litros de gordura animal e 4,5 milhões de litros de biodiesel.