Mesmo que temas relativos a comércio apareçam apenas de forma secundária na agenda do presidente Jair Bolsonaro em sua visita aos Estados Unidos, seria de se esperar que a repetida intenção de intensificar a aproximação com Washington ao menos comece a abrir mais espaço para as exportações brasileiras.
No final do ano passado, Donald Trump reclamou que o Brasil era um dos países mais duros para se negociar. A análise dos números, porém, mostra uma relação muito favorável ao Tio Sam. Nos últimos 10 anos, em apenas um, 2017, o Brasil teve superávit na balança comercial com os EUA. Nesse período, os americanos exportaram US$ 46,7 bilhões a mais do que importaram do país. A maior economia do mundo é o segundo principal cliente brasileiro. Os embarques para lá, porém, pouco avançaram nos últimos anos. Em 2018, até chegaram ao maior valor da série histórica (US$ 28,7 bilhões), mas a trajetória dos valores é de altos e baixos. O último ano em que os Estados Unidos ficaram em primeiro lugar como destino das exportações brasileiras foi 2008. Depois, o apetite chinês por alimentos tomou o lugar mais alto do pódio.
A importância do mercado americano também aparece por ser um comprador não apenas de commodities, mas de produtos industrializados, que têm maior agregação de valor local, mas carecem de competitividade. Logo após a vitória de Bolsonaro, os dois conversaram por telefone e Trump teria afirmado que gostaria de avançar em questões comerciais. Agora, é conferir se a propalada afinidade entre os presidentes — e a conversa que terão nesta terça-feira — trará benefícios práticos para o Brasil ou o "America first" vai se sobrepor ao "Brasil acima de tudo".