
Se mais segmentos reagissem como a indústria automotiva, seria possível encher a boca para falar em retomada e até em recuperação da economia no Brasil. Não é uma alta sem engasgos, mas o avanço de 17,7% nas vendas de veículos registrado em julho, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, é um desempenho positivo de exceção.
De janeiro a julho, a reação também mostrou torque e potência: alta de 14,5% sobre igual período de 2017. Sim, o resultado mensal, de 217,5 mil unidades, ainda é mais de um terço inferior aos recordes alcançados antes da crise.
Mas se a recuperação total não foi alcançada, aumentos consistentes de dois dígitos são tão raros no Brasil da retomada gradual e, até agora, mais arrastada do que propriamente lenta.
As contradições do difícil processo de saída do país da recessão estão contempladas nas estatísticas da Anfavea, que representa as montadoras. As exportações tiveram forte recuo.
A venda para o Exterior de veículos e máquinas agrícolas caiu 13,1% ante o mês anterior e 12,4% na comparação com igual mês do ano passado. Como a coluna havia previsto, em boa parte é resultado da redução das vendas para Argentina e México. Apesar de a crise no país do tango ser menos visível do que no Brasil, está lá, e tende a se agravar.
Embora empresas tenham certa inclinação para o otimismo, caso contrário desistiriam do negócio, é uma boa perspectiva para a economia no segundo semestre que alimentou as vendas de julho. Conforme a própria Anfavea, o crescimento das vendas reflete antecipação dos distribuidores ao aumento da procura dos consumidores que costuma ocorrer nesse período.
Nos próximos meses, a disputa eleitoral e o potencial ofensivo às economias emergentes à guerra comercial declarada por Donald Trump vão determinar se as concessionárias foram otimistas ou se anteciparam, corretamente, a tendência animadora.