O que era inferno astral parece ter virado tempestade perfeita. Para lembrar, a expressão define uma situação desfavorável agravada por circunstâncias negativas em cadeia até o ponto do desastre. O criador do Facebook, Mark Zuckerberg imaginava conter parte do estrago com o "mea culpa" em que admitia erros e prometia melhoras "a longo prazo". Desde então, só piorou:
1. A queda no valor de mercado acumula US$ 74,6 bilhões (R$ 235 bi), mordida de 13,9% nas ações. Mais de uma semana depois, não parou de despencar.
2. A perda de anunciantes inclui duas marcas icônicas em universos complementares: Mozilla, com discurso "sem fins lucrativos" de manter a internet aberta e acessível, e o Commerzbank, segundo maior banco alemão, citando "perda de confiança".
3. O declínio de prestígio se agravou com a adesão de Elon Musk ao #DeleteFacebook. Com mais de 20 milhões de seguidores no Twitter, tirou as páginas da Tesla e da SpaceX da rede de Zuck e informou nunca ter tido conta pessoal porque lhe "dá arrepios (gives me the willies)".
4. O escândalo, chamado de "fracasso épico", foi capa da mais recente edição da revista britânica The Economist, potente farol para iluminar ou chamuscar empresas.
É claro que o enfraquecimento de uma das "frightful five (cinco assustadoras)" - com Amazon, Apple, Google e Microsoft - facilita ataques oportunistas, mas Zuck deixou espaço para isso. O poder acumulado na última década por essas empresas gerou a resistência exposta pelo apelido. Mas só do Facebook já se dizia, ainda antes do episódio envolvendo a Cambridge Analytica, que poderia "afetar a democracia". Essa ameaça fez Zuck mudar a estratégia dos algoritmos que movem sua rede. Não ajudou. A dúvida é se existe poder no mundo capaz de recuperar a inocente ferramenta de relacionamento criada em Harvard.