Para quem acompanha as mudanças na empresa, não foi uma grande surpresa. Mesmo assim, o anúncio de que a Gerdau vai retirar sua sede do Rio Grande do Sul tem impacto profundo. A siderúrgica anunciou nesta sexta-feira (6) que está em “processo de transferência” de suas áreas corporativas para São Paulo. Esse processo, detalhou a empresa à coluna, vai começar em janeiro de 2018, quando os representantes da família Gerdau Johannpeter, atualmente em cargos de gestão, também se afastam do dia a dia dos negócios para ficar apenas nos conselhos.
Desde que a Gerdau passou a concentrar suas atividades industriais em Minas Gerais, no início dos anos 2000, a retirada da sede do Rio Grande do Sul era uma consequência previsível, quase uma questão de tempo. No início desta década, a integração da mineração de ferro com a produção de aço acentuou o foco fora do Rio Grande do Sul.
As duas siderúrgicas que existem no Estado – as usinas de produção de aço de Sapucaia do Sul e Charqueadas (a antiga Aços Finos Piratini), serão mantidas. O conselho de de administração da empresa também segue com escritórios em Porto Alegre. Mas o centro nervoso, com seus cérebros e salários, migra.
Conforme a Gerdau, a medida resulta da evolução da governança anunciada em agosto – a família deixa a gestão do dia a dia no final deste ano. Em janeiro, começa a mudança dos cerca de 100 colaboradores. A empresa avalia, ainda, que concentrar decisões estratégicas em São Paulo vai agilizar decisões ao aproximar áreas corporativas das operações de negócios. Com a despedida da sede da Gerdau, uma das cinco companhias mais internacionalizadas do Brasil, o Estado perde mais um tantinho de autoestima já abalada. Será preciso trabalhar muito para recuperá-la.
A fuga de renda
Não há perda de arrecadação para o Estado com a decisão da Gerdau de levar sua sede administrativa para São Paulo. A produção em Minas paga impostos por lá, os aços produzidos no Estado seguirão recheando os cofres por aqui. Mas uma centena de funcionários que recebem salários elevados será deslocada com a decisão da Gerdau de levar sua sede administrativa para São Paulo. Levam para a capital paulista um consumo de alta renda que antes movimentava a economia de Porto Alegre.
O fim de um ícone
O prédio da Avenida Farrapos, 1.811, em Porto Alegre, era uma espécie de ícone da Gerdau em Porto Alegre. Perto do berço das atividades da família de imigrantes alemães, também simbolizava a austeridade que sempre norteou os negócios da empresa. Com a ida da sede para São Paulo, o edifício ficará vazio. O que restar de gestão no Estado migra para as instalações da usina de Sapucaia do Sul. A empresa confirma, mas informa que ainda não decidiu se vai vender ou alugar o imóvel.