Todos os sinais apontam para a provável revisão do acordo de delação da JBS e de seus dois principais delatores – Joesley Batista e Ricardo Saud. No país em que 100 milhões de brasileiros já foram técnicos de futebol e 200 milhões se converteram em hermeneutas – intérpretes de leis –, o tema é um raro consenso. O fato de os dois prestarem depoimento num 7 de Setembro ajuda a construir a sólida rejeição não só às práticas anteriores à delação mas as que cercaram a elaboração do acordo.
São patéticos os trechos de áudio que misturam esperteza a português estropeado de quem não confia na educação, mas na propina. Pior, só o comunicado em que ambos afirmam não haver "conexão com a verdade" na conversa. A explosão dos cacos da "campeã nacional" que recebeu pelo menos R$ 8 bilhões do BNDES, em aportes de capital e financiamento subsidiado, terá custo econômico.
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Consultores diagnosticam risco de que os negócios feitos até agora pelo grupo, no valor total de R$ 24,5 bilhões, podem ser anulados se caírem os acordos de delação e de leniência. Caso isso ocorra, haverá reflexos em transações financeiras. A essa altura, o custo do fracasso da esperteza dos irmãos Batista pode ter um preço compensador.
Não se trata apenas de coibir a corrupção. Nos desdobramentos da intrigante aparição do áudio entre Joesley e Saud, os dois seguem exibindo todos os comportamentos que ajudaram a levar o Brasil ao buraco econômico, político e cultural a que o país chegou.
Usaram dinheiro subsidiado – significa que eu e você, leitor, ajudamos a pagar –, compraram um terço do Congresso, sabe-se lá o estrago que fizeram no Judiciário. Se o naufrágio de parte dos negócios for o preço a pagar para que nenhum grupo empresarial cogite em usar essas práticas, pode valer a pena.