Não por acaso, a bolsa caiu 1% no dia em que o governo cometeu seu enésimo recuo, desde vez na decisão sobre a revisão da meta fiscal. Na prática, o Planalto anunciaria um subterrâneo no buraco já previsto nas contas públicas, de R$ 139 bilhões. Pela manhã, o balão de ensaio do dia – de que o rombo seria ampliado em R$ 20 bilhões, tocando em R$ 159 bilhões – ajudou a azedar o humor dos investidores.
O resultado final foi que houve desgaste antecipado, ainda que sem o anúncio. Para tentar explicar o fiasco – havia uma multidão de repórteres esperando a definição –, o Planalto construiu a versão de que a causa do adiamento era a intenção de avaliar o comportamento da receita para calibrar a meta final.
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O anúncio foi reagendado para segunda-feira. É difícil imaginar que a arrecadação avance de forma substancial em quatro dias, dos quais só dois úteis. Nesse caso, o tradicional conselho sobre caminhos de identificação – siga o dinheiro – recomenda examinar o número que chegou a ser apontado como definitivo, extraoficialmente.
O gráfico abaixo mostra o resultado equivalente ao que o Planalto tenta calibrar agora. Os picos verdes correspondem a superávits primários (resultados positivos, sem considerar pagamento de juros da dívida), os buracos ocre, aos crescentes rombos. O aprofundamento entre 2014 e 2015 abrigou o conserto das "pedaladas" da presidente Dilma Rousseff. Em 2016, a meta de R$ 171 bilhões foi apresentada como o abismo que engoliria erros do passado, tão fundo que não permitiria que voltassem à superfície. Foi possível até entregar um nível menor, de R$ 159,47 bilhões.
Repetir esse número é tudo o que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não quer. Ele empenhou sua biografia com o mantra "redução progressiva do endividamento público". O aumento do rombo no orçamento equivale a esticar o cheque especial além do limite. Como dinheiro não dá em árvore, serão R$ 20 bilhões a mais no estoque da dívida pública brasileira. Pior, com o consensual diagnóstico de que parte desse subterrâneo foi formado para garantir a sobrevida do governo.