O próprio IBGE realça que foi a primeira queda significativa da taxa de desocupação desde o final de 2014. A notícia é boa, mas ainda requer certa moderação ao ser celebrada. O recuo da taxa de desemprego – de 13,7% no trimestre encerrado em março para 13% no intervalo de três meses finalizado em junho – foi maior do que o esperado pelo mercado, mas o resultado ainda deixa algumas preocupações nas entrelinhas. A melhora no índice foi puxada pelo avanço do trabalho por conta própria e sem carteira assinada, considerados de menor qualidade na comparação com a contratação formal, cercada de direitos e proteção social. Ainda é reflexo da crise e da falta de confiança na economia. Ao final de março, eram 22,1 milhões de pessoas buscando o sustento por conta própria no país. Em junho, o contingente chegou a 22,5 milhões.
– O país passa por uma recuperação, que é lenta e gradual, mas ainda estamos em crise e essas pessoas não estão conseguindo esperar uma reação mais forte (à espera de recolocação) e têm de achar alguma alternativa por conta própria – avalia o pesquisador da área de mercado de trabalho Bruno Ottoni, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
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Outro grupo com peso importante é a população empregada sem carteira assinada. Eram 10,18 milhões de pessoas em março e passaram a ser 10,62 milhões ao final do mês passado. Para Ottoni, movimento que ilustra o estágio atual do país. Há recuperação da economia, mas como as incertezas persistem, os empregadores privados preferem contratar sem assinar a carteira, evitando os custos da admissão formal.
Ao mesmo tempo, o contingente mais importante, o dos assalariados no setor privado com carteira, não mostra crescimento. Em junho, chegaram a 33,33 milhões de pessoas, 70 mil a menos do que março, o que é considerado estável pelo IGBE. Um avanço neste grupo ainda depende da estabilização política, senha para os empresários sentirem maior confiança para contratar.
Mais um dado chama a atenção. Mesmo em crise devido à queda a arrecadação na União, Estados e municípios, o setor público fechou mês passado com 11,29 milhões de ocupados, avanço de 400 mil postos sobre o número de março. Onde mais é necessário cortar custos, o inchaço prossegue, enquanto não param de piorar os serviços à população.
*A colunista Marta Sfredo está em férias