Os mais recentes sustos dos brasileiros têm uma origem comum: está cada vez mais claro o cenário em que o governo Temer não poderá cumprir o compromisso assumido de limitar o buraco nas contas públicas a R$ 139 bilhões. Sem garantia de receitas extras previstas para alcançar essa estranha meta, começam a surgir balões de ensaio para detectar o grau de rejeição a cada tentativa de recompor as contas.
A primeira foi o esboço de confisco do FGTS. A tentativa de "poupar" cerca de R$ 10 bilhões do seguro-desemprego pegou mal da esquerda à direita, de economistas liberais a centrais sindicais. Em seguida, faltou dinheiro para emitir passaportes, que exigiu um "pedido de crédito suplementar" de R$ 102,3 milhões ao Congresso. A ideia da hora é revestir de "verde" a Cide, tributo sobre os combustíveis, para pesar sobre gasolina e diesel, ambos de origem fóssil, e aliviar o etanol. Geraria caixa para o governo e fôlego ao debilitado segmento sucroalcooleiro.
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Essa corrida em busca de receita é em boa medida resultante da cota da sobrevida de Michel Temer no poder. Depois de 17 de maio, data em que a delação da JBS se tornou pública, o capital estrangeiro minguou, os sinais de reação enfraqueceram – embora não tenham desaparecido – e projetos foram congelados à espera de definições que não ocorreram.
Até agora, a declaração pública mais explícita sobre a "Cide verde" veio do presidente da Petrobras, Pedro Parente. Em evento em São Paulo, admitiu a discussão sobre "mecanismos de compensação ou reconhecimento das vantagens ambientais da produção e do consumo de etanol para o ambiente".
A política de preços da Petrobras, que pretende reajustar valores nas refinarias em intervalos mais curtos, pode ajudar a mascarar o aumento em gasolina e diesel. Mas um erro de calibragem, a essa altura, pode fazer o gigante voltar a despertar de sua apatia diante do tamanho da conta a pagar.