Em um dia que começou com a prisão de um ex-ministro de Dilma Rousseff e de Michel Temer, chamou atenção a relativa calma no mercado. Nada se moveu muito ou bruscamente nesta terça-feira, bolsa teve leve alta e o dólar, pequena queda. O mais notável é que isso ocorreu no dia em que os três principais índices de ações em Nova York fecharam em baixa. Quer dizer: houve descolamento da referência sem qualquer justificativa clara. Até o fechamento, o mercado trabalhava com dois cenários: pedido de vista, com adiamento da decisão para o segundo semestre, ou a não cassação de Temer.
A variação menos brusca dos indicadores de mercado no curto prazo foi mais suave do que a temida. A volatilidade relativa já havia sido apontada pela consultoria Eurasia. Na avaliação de Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC), há dois motivos para a regulação do pânico, no cenário tão aberto em que os investidores encerraram negócios ontem, e ambos estão relacionados ao BC.Segundo Freitas, boa parte do mercado está "vendida" em dólares e em juro. Significa que estão apostando que vão ganhar dinheiro com a queda nos dois ativos. O que levou a essa posição, na avaliação do especialista, foi a "política econômica responsável e transparente", que ancorou as expectativas a despeito das flutuações da política.
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A questão, avalia, é qual gatilho poderia virar o mercado de "vendido" para "comprado", ou seja, passasse a aposta na alta do dólar e do juro:
– Isso deve demorar. O Brasil não está na iminência de dar calote na dívida interna. Como o país tem mais dólares nas reservas do que deve, se a cotação subir o equilíbrio da dívida melhora.
O economista não subestima o contágio da política sobre a economia, mas afirma que, neste momento, importa mais a crebilidade do BC. Em outras palavras, para o mercado, quem governa é Ilan Goldfajn, presidente da instituição.
– Se as reformas não saírem, vamos continuar sangrando, mas não há risco imediato de evoluir para uma hemorragia grave.