Se houve um acerto no pronunciamento do presidente Michel Temer, no sábado à tarde, foi a mira nas condições da delação feita por Joesley e Wesley Batista, os donos da JBS. O fato de que os empresários saíram do escândalo livres e sob suspeita de terem lucrado com a crise no mercado financeiro incomoda muita gente. Quem havia considerado leves os termos da colaboração premiada de outro propinador-mor nacional, Marcelo Odebrecht, agora tem dó do empresário baiano, preso há dois anos.
Odebrecht e JBS têm muito tem comum, e a coluna desenhou (gráfico acima) para ajudar a entender: a aceleração do faturamento – maior no caso da empresa dos Batista –, o forte apoio do BNDES e o pluripartidarismo nas contribuições, eleitorais ou não.
O ponto de corte se dá na definição do prêmio à delação. Marcelo segue preso até o final deste ano, para só então seguir para o regime semiaberto e, depois, para o aberto – em seu caso, domiciliar. Joesley e Wesley não foram – nem serão – presos, sequer terão de usar tornozeleira eletrônica. Eles e mais cinco executivos pagaram R$ 225 milhões em multa, como pessoas físicas envolvidas em crimes. Joesley está em Nova York, com a família, desde 10 de maio.
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Por isso não foi achado quando a Operação Bullish o buscou para a condução coercitiva, dois dias depois. Era a sexta operação que investigava a empresa. Para justificar tanta benevolência, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou a "exposição" do empresário na obtenção de provas e até o risco de vida caso permanecesse no Brasil.
Um dos cinco processos administrativos abertos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra a JBS na sexta-feira apura "eventual prática do crime de insider trading". Investiga se houve compra de dólares no mercado futuro, com ganhos decorrentes do fato de que a operação foi quitada depois da queda na cotação da moeda causada pelas revelações. Apura ainda negócios com ações.
Existe um dispositivo legal que prevê anulação do prêmio caso o colaborador se envolva em crimes durante a vigência do acordo. Se a CVM concluir pela responsabilização, os sete envolvidos da JBS perderiam suas benesses. O advogado André Callegari, especializado em crimes econômicos, confirma a possibilidade, mas avisa que não é automática. Pode abrir uma longa disputa judicial. No capitalismo de compadres à brasileira, os matutos Batista levaram vantagem ante o cerebral Marcelo Odebrecht.