Fabio Barbosa é presidente do conselho de administração da Endeavor, organização global de incentivo ao empreendedorismo. Com outros grandes empresários, dá apoio a projetos de alto impacto que possam ter suas boas experiências replicadas. Neste semestre, a organização vai selecionar projetos com potencial de alto crescimento para receber mentoria, 20 dos quais no Estado. Embora admita que o ambiente nacional pode sugerir menos cuidado com as obrigações, porque "o Brasil é assim mesmo", Barbosa insiste no mantra que marcou sua carreira: "dar certo, fazendo a coisa certa do jeito certo".
Menos burocracia
"Temos procurado trabalhar com algo que pavimente o caminho para aqueles que desejam empreender. Um dos trabalhos mais bem sucedidos foi a redução do tempo de abertura de empresas em Porto Alegre, que passou de 484 para menos de 20 dias. Ainda existe algo a ser feito para reduzir esse período, para dar ao empreendedor a oportunidade de focar naquilo que entende ser o serviço que prestará à sociedade, e não ficar travado na burocracia."
Empreendedores da crise
"Sempre houve número muito grande de empreendedores no Brasil, parte porque não conseguia posição no mercado de trabalho. O ideal é que as pessoas sigam sua vocação, a vontade de empreender independentemente das condições do mercado. Essas tendem a ter mais sucesso do que aquelas que, sem esse perfil, empreendem por falta de alternativa. A taxa de mortalidade (de empresas) é mais alta não porque a economia não vai bem, mas porque brasileiros que não tinham esse perfil se tornaram empreendedores. Por meio de pequenas operações, gera-se número enorme de empregos. Empreendedores com sucesso ajudam a puxar a economia. É um elemento muito ágil, diferentemente de investimentos com muito capital que demoram para produzir resultado."
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Experiências replicáveis
"A Endeavor trabalha para dar condições necessárias à pavimentação do caminho do empreendedor. Uma é a abertura e o fechamento de empresas. Em Porto Alegre, foi um trabalho com a prefeitura. Na Endeavor, a palavra-chave é replicabilidade. Não adianta ter boa experiência em um local, dado o tamanho da oportunidade e do desafio no Brasil, que não possa ser replicada. Queremos usar essa experiência de Porto Alegre em outras capitais, onde também possamos trabalhar de forma articulada. De mau exemplo, a cidade se tornou o melhor. São Paulo ficou incomodada. A prefeitura, ao saber da experiência de Porto Alegre, pensou se não pode fazer o mesmo. O principal papel da Endeavor é, quando a empresa começa a crescer, e tem dificuldades, dar apoio e mentorias que busquem entender os pontos em que o empreendedor precisa de ajuda. Tentamos compreender as dificuldades. Por termos vivido outras experiências, buscamos viabilizar o crescimento das empresas. A ideia é que a Endeavor não fique apenas cuidando do pequeno número de projetos com o qual trabalha, mas, sim, ampliar. Essas empresas servem como espécie de laboratório. Aprendemos muito com esses projetos e replicamos as orientações e as dicas para outros empreendedores."
Dar certo do jeito certo
"Uma das coisas em que insistimos é que as empresas precisam trabalhar com transparência. Não existe o conceito de que, por serem pequenas, podem passar por cima de obrigações. É preciso começar da maneira correta. Isso é importante para o país que queremos construir, e que obviamente deve ser calçado em empresas que acreditem no mantra 'dar certo, fazendo a coisa certa e do jeito certo', que usei durante toda a minha vida. Muitas vezes, o jovem está começando e é tentado pela ideia de que 'é assim mesmo no Brasil'. Temos de sair disso. Isso é importante, inclusive, para a questão do crédito bancário, que é uma confiança. A questão tem de se estruturar para ir buscar financiamento em bancos. Haverá linhas de crédito especiais. Há bancos parceiros da Endeavor que oferecem linhas de créditos especiais para empresas que trabalham com a gente. Por quê? Porque entendem que essas empresas têm governança. Isso dá confiança ao banco."
Risco de endividamento
"O ritmo de crescimento da empresa tem de ser dimensionado para que não acabe se endividando. E esse é um cuidado que temos na Endeavor. Muitas empresas com ótimas ideias tiveram problemas porque cresceram em ritmo muito acelerado. O crescimento toma capital. Se a empresa não tiver dinheiro, acaba se endividando. O crédito pode tornar a vida muito boa ou muito ruim. Isso vale para pessoas físicas e empresas. Pode ser uma grande alavanca para o crescimento ou uma grande armadilha. Esse é um dos pontos em que prestamos muita atenção. Discutimos busca de sócios, parcerias, fusões ou eventualmente até redução do ritmo de crescimento, além do financiamento."
Alto crescimento
"A ideia da scale-up é crescer rapidamente com sustentabilidade. Queremos que as empresas acelerem de maneira planejada, sólida, com recursos financeiros e governança, outro fator que evita muitas mortes no mercado. Temos, no portfólio, elevado percentual de projetos com crescimento acelerado."
Erros e acertos
"Nos Estados Unidos, o erro do empreendedor é mais bem aceito do que no Brasil. Lá, ele erra e volta a empreender. Aprende com o erro. Há empreendedores muito famosos que acertaram só na terceira ou quarta vez. Temos de vencer isso no Brasil. Aqui, o empreendedor erra e não tem muito espaço para tentar novamente. Trabalhamos para entender o porquê disso."