Em mais um avanço para "coordenar as expectativas", o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu o juro básico, nesta quarta-feira, em um ponto percentual, para 11,25% ao ano. É a maior tesourada dada pela instituição desde março de 2009, quando havia podado, de uma vez, 1,5 ponto percentual. Curiosamente, para os mesmos 11,25% atuais.
Na justificativa, o BC destacou que "o comportamento da inflação permanece favorável", com redução de preços em vários segmentos, inclusive nos mais sensíveis ao ciclo econômico (leia-se recessão) e à política monetária (leia-se o ajuste da taxa Selic). No entanto, a instituição advertiu que, "no âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto". Mas até o senão foi relativizado. Para o BC, os pontos de interrogação globais tem "mitigado os efeitos sobre a economia brasileira de possíveis revisões de política econômica em algumas economias centrais, notadamente nos EUA".
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A observação veio no mesmo dia em que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, disse, de novo, que o dólar está ficando "muito forte", em entrevista ao The Wall Street Journal. Isso significa que a fala presidencial contrabalança os efeitos das prováveis novas altas de juro nos EUA. Pelo menos mais duas são esperadas para este ano. Normalmente, contribuiriam para a alta da moeda do país, mas os disparos de Trump esvaziam o balão verdinho.
Mas em plena turbulência política provocada pela divulgação da lista de pedidos de inquéritos do Supremo Tribunal Federal, a "Lista de Fachin", o BC tentou fazer sua parte para não atrapalhar os planos do Planalto, duramente atingido por ter oito ministros na relação, dois deles muito próximos do presidente Michel Temer. Na justificativa, até mais longa do que as anteriores, a instituição faz questão de destacar que "a aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia são relevantes para a sustentabilidade da desinflação e para a redução da taxa de juros estrutural".
Para bons entendedores, se as reformas forem aprovadas, criam mais espaço para cortes de juro mais acentuados. E o BC também se vacina contra excesso de expectativa: "a recuperação da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada". E desta vez, houve poucas pistas sobre o futuro das decisões do Copom: "a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira". Ou seja, ficou nublado até para a coordenação das expectativas.