Sim, o resultado do PIB de 2016 veio menos ruim do que se temia, inclusive a partir da divulgação do indicador de atividade do Banco Central, que indicava não uma queda de 3,6%, mas um tombo de 4,3%. Esse sinal, que já foi chamado de "prévia do PIB", sabe-se bem hoje, não tem o mesmo alcance das contas trimestrais do IBGE que oficializam a maior recessão vivida pelo país desde a década de 1930. Mas o alívio com os dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE termina por aí. É difícil encontrar, ao olhar a economia brasileira pelo retrovisor, sinais alentadores do caminho à frente.
A queda acumulada em 11 trimestres é de assustadores 9%, número que impressiona e ajuda a explicar a dificuldade de engregar uma reação. Quanto maior a queda, mais difícil é o caminho de volta, tanto na vida real quanto no que os especialistas chamam de "carregamento estatístico". Esse efeito tem uma descrição bastante técnica, mas não é tão difícil de entender: é mais difícil passar de um patamar levemente negativo para o positivo do que recuperar um longo caminho entre a profundidade da queda até a superfície.
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No último trimestre de 2016, houve – pequeno, é verdade – aprofundamento na queda da atividade. O recuo de 0,7% no período entre julho e setembro deu lugar a um declínio de 0,9% de outubro a dezembro. A estatística confirmou a sensação: o segundo trimestre havia sido o "menos pior" na economia em 2016, aquele momento em que nos enchemos de expectativas, frustradas na sequência.
Foi, também, o único intervalo positivo no indicador de futuro embutido no retrovisor, o que indica o avanço ou recuo do investimento, medido pelo item chamado Formação Bruta de Capital Fixo. De abril a junho, o número havia registrado uma pequena recuperação, de 0,6%, mas voltou a cair no trimestre seguinte, 2,5%, e fechou o ano com novo recuo de 1,6%. Sim, o PIB no ano passado é a economia vista no retrovisor, mas a imagem do passado ainda não permite ver as obras para trafegar com menos solavancos no futuro.