Se no Congresso o clima de tensão se cristalizou com a lista entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (SFT), no mercado os investidores ignoraram solenemente os riscos embutidos na mais recheada relação de potenciais investigados. Pela manhã, o que ditou a animação na bolsa foi a alta do petróleo e do minério de ferro, que elevou as cotações de Vale e Petrobras. À tarde, o entusiasmo foi com o cumprimento das expectativas da decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), com sinais que que novos aumentos, se vierem a ocorrer, serão de baixo impacto.
Mas a cereja desse bolo veio quase no encerramento dos negócios: sem que se esperasse, a agência de classificação de risco Moody’s melhorou a perspectiva da nota do Brasil. Estava em "negativa" e passou para "estável". Parada para explicação: a perspectiva negativa significa que um rebaixamento pode ocorrer a qualquer momento. A estável sinaliza que não há intenção de curto prazo em baixar a nota – no caso do Brasil, ainda mais.
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A bolsa teve a maior alta em dois meses, 2,4%. O dólar recuou quase 2% – o que é raro em um só dia –, para R$ 3,11. A decisão foi ainda mais inesperada porque há apenas um mês outra agência de risco, a Standard and Poor’s, havia reafirmado a perspectiva negativa. Na justificativa da decisão da Moody’s, música para qualquer governo que enfrenta dificuldades de toda ordem: "Os riscos de deterioração refletidos na perspectiva negativa estão diminuindo, e as condições macroeconômicas se estabilizando, enquanto a economia apresenta sinais de recuperação, a inflação em queda e o cenário fiscal está mais claro".
Para boa parte dos brasileiros, o desejo é forte, mas as evidências não estão tão evidentes. Será que a Moody’s sabe dos perigos embutidos na lista de Janot? Aparentemente, não. Para explicar a decisão, a agência menciona "sinais de que o funcionamento da estrutura de políticas econômicas está melhorando e de que as instituições estão recuperando sua solidez, o que dá sustentação à planejada implementação de reformas fiscais estruturais". Janot? Que Janot?