Em 2012, quando começou o plano de expansão no Rio Grande do Sul, a promessa do conglomerado paulista M.Grupo era investir R$ 1 bilhão com operações de shoppings, indústria, hotéis, construção civil, a segunda maior empresa de táxi aéreo do Brasil e até o futuro prédio mais alto do Estado. Nesta semana, a Justiça de Porto Alegre decretou a falência da Magazine Incorporações, considerada a empresa carro-chefe do M.Grupo. Isso tudo depois de o shopping Gravataí ter o fornecimento de energia cortado por falta de pagamento.
Liderado pelo empresário Lorival Rodrigues, o grupo já não ostenta mais a opulência de outrora. O edifício Majestic, em Gravataí, que teria 42 andares e 132 metros de altura, chegou a ser comercializado, mas nunca saiu do papel. Dois empreendimentos inacabados na cidade, e um em Porto Alegre, acabaram retomados por investidores, que agora buscam dar utilidade aos imóveis.
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Consultores e empresários do setor afirmam que dois fatores explicariam o revés no negócio. O primeiro seria a atividade econômica, que vem diminuindo desde 2015, mas bem antes disso já demonstrava sinais de estagnação. O segundo, a estratégia escolhida pelo grupo empresarial familiar, considerada bastante "arrojada."
– Dono de uma empresa de táxi aéreo, Lorival investiu na diversificação apostando em uma alta alavancagem. Fez empréstimos com diversas instituições financeiras e isso traz riscos – conta um empresário gaúcho que prestava consultoria ao paulista.
Dono de um sorriso simpático, estilo bonachão, não teve dificuldades de convencer lojistas do Interior a investir no seu negócio. Carros luxuosos, casarões em Gramado e barcos em Florianópolis ajudavam a formar uma aura de sucesso.
Com a desaceleração do setor de construção civil já a partir de 2012 e as dificuldades crescentes para conseguir crédito no mercado, o M.Grupo passou a enfrentar problemas de fluxo de caixa. Inaugurado em 2013, com atraso de seis meses, o shopping Gravataí já dava sinais de que algumas coisas não iam tão bem nos negócios do conglomerado. O centro comercial de 23 mil metros quadrados foi aberto com uma série de falhas em infraestrutura.
A partir de 2014, os problemas começaram a se avolumar. Atrasos na execução de projetos imobiliários, pedidos de execução de garantias para cobrir operações financeiras, protestos de fornecedores por débitos e ações judiciais de quem adquiriu unidades e não tinha recebido as chaves se tornaram evidências de que a saúde financeira da empresa não ia nada bem.
Em 2015, duas associações de compradores foram oficializadas – do flat na Rua 24 de Outubro, em Porto Alegre, e da torre comercial Unique, ao lado do shopping Gravataí. No ano seguinte, por decisão judicial, o M.Grupo perdeu os direitos de administração de empreendimentos em Bento Gonçalves, Santa Cruz do Sul e Xangri-lá – o de Lajeado segue sob administração de Lorival, mas credores já pedem na Justiça a transferência do comando.
O M que dá nome ao grupo é uma referência à palavra "múltiplo", uma referência bem humorada à diversificação nos empreendimentos e à crença na multiplicidade nos ganhos. Coincidência, Eike Batista tinha por hábito concluir as siglas que batizam seus empreendimentos com a letra X. A presença do símbolo matemático da multiplicação serviria para dar sorte e impulsionar o lucro nos negócios.
*A colunista Marta Sfredo está em férias