As críticas e piadas de artistas de peso mundial contra Donald Trump viram notícias e repercutem nas redes, é verdade. Mas não é com essa desaprovação que o presidente americano deveria se preocupar. Uma rejeição menos barulhenta e bem mais perigosa para um político eleito sem grande apoio popular pode ser fatal. A ex-presidente Dilma Rousseff está aqui para lembrar a lição.
Fica mais difícil manter uma economia em pé quando a iniciativa privada não demonstra disposição alguma em ajudar. E foram muitas as promessas de mais empregos e renda durante a campanha eleitoral.
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Nesta terça-feira, foi a vez de Larry Meyer, diretor do Federal Reserve entre 1996 e 2002, dizer o que pensa. Em conferência, chamou Trump de "cisne negro" e "imprevisível". O adjetivo nem é tão pejorativo no uso cotidiano. Mas, tratando-se de um presidente, a palavra fere mais do que uma agulhada. Afinal, tudo que os investidores querem é um líder que lhes garanta certa capacidade de ver o futuro – e aumentar os lucros. As melhores memórias hão de lembrar que empresários e analistas locais costumavam associar o termo à ex-presidente Dilma, dia sim, e no outro também.
Desconhecido do público, mas extremamente admirado pelo mercado, leia-se gestores que administram bilhões de dólares em fundos e decidem investimentos, Meyer é um exemplo do boicote silencioso que Trump pode sofrer caso continue insistindo em cantar desafinado a música da boa democracia. Facebook, Apple, Starbucks, Google e Ford foram algumas das companhias que, por meio de comunicados, já deram o recado. Não espere muito mais do que isso. Diferentemente do meio político, que gosta de microfone e de tuitar em microblogs, executivos, em geral, são mais discretos. Não discutem, só derrubam o preço. Se o presidente americano fosse uma ação, a maior parte dos investidores estaria "vendida".
Justamente por essa ofensiva do mercado em indicar que nem mesmo um bilionário na Casa Branca pode fazer o quer, chama atenção a falta de atitude de países parceiros em protestar contra posturas tomadas. Brasil e Argentina se contentaram em expressar "preocupação" com o muro que Trump quer construir. Nesta terça-feira, após encontro, Temer e Macri falaram em estreitar laços com o México. Já que decidiram não criticar o colega americano, que copiem o comportamento do mercado e precifiquem.
*A colunista Marta Sfredo está em férias