Com a cobrança por transparência cada vez maior, políticos são obrigados a prestar contas de qualquer centavo de dinheiro público gasto. Mas quem é que tem paciência para checar cada uma das milhares de notas fiscais apresentadas pelas centenas de deputados? Rosie tem. Quem é Rosie?
É um algoritmo que audita com lupa os reembolsos recebidos pelos deputados federais durante o mandato deles. Quando um dado aparenta ser diferente, ela o sinaliza para seus criadores. O nome foi inspirado na empregada futurista de Os Jetsons, sucesso no Brasil nas décadas de 1970 e 1980.
Desenvolvido em parceria por três cientistas de dados – o carioca Irio Musskopf, baseado em Porto Alegre, o gaúcho, Felipe Cabral, que vive na Itália, e o paulista Eduardo Cuducos, em Campinas –, o projeto intitulado Serenata de Amor é uma referência bem humorada ao escândalo do Toblerone, ocorrido na Suécia.
Na década de 1990, a então vice-primeira-ministra, Mona Sahlin, foi obrigada a renunciar depois que descobriram a compra de barra de chocolates da marca e outros objetos pessoais com o cartão do governo.
A versão brasileira já tem dado dor de cabeça: 216 deputados foram comunicados por gastos suspeitos: 19 deles, gaúchos. Na lista, Afonso Motta (PDT), Carlos Gomes (PRB), Covatti Filho (PP), Marco Maia (PT) e Renato Molling (PP).
Em três meses, Rosie detectou mais de 3 mil anomalias. Gastos superfaturados, compras de bebidas alcoólicas e despesas quase simultâneas em cidades distantes estão entre as mais comuns.
O “salário” da Rosie foi pago com recursos arrecadados em uma campanha de financiamento coletivo. A equipe conseguiu levantar R$ 80 mil para dar o pontapé inicial e suporte ao trabalho desenvolvido por oito programadores de novembro até agora.
Para que o serviço possa ter continuidade, a turma volta a passar o chapéu. Mas, em vez de financiamento tradicional, busca agora custeio recorrente através de uma assinatura mensal, A meta é alcançar R$ 45 mil mensais – até o momento 217 pessoas já garantem R$ 6.170. Entre os apoiadores institucionais está a Open Knowledge, fundação inglesa que dá suporte ao uso de dados abertos.
Em pouco mais de três meses já foram questionados R$ 378 mil em gastos controversos. Em época de rombo nas contas públicas e, mais do que isso, em país que deseja representantes honestos no Congresso, qualquer centavo conta.