Bola na trave não altera o placar, diz a regra do futebol. Na economia, não é muito diferente. Por isso, é recomendado certa prudência na análise dos indicadores antecedentes de atividade – aqueles que, em tese, anunciam o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). O governo cumpre o papel que lhe cabe e tem feito uma leitura otimista dos dados, mas especialistas adotam cautela.
O centroavante do time, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é bom de direita e vai cobrar falta perto da área e sem barreira. A chance de gol é grande, é claro, mas não deve ser dada como certa. O fluxo de veículos em rodovias pedagiadas, a expedição de caixas, chapas de papelão e acessórios e a produção física da indústria de transformação têm crescido e estão, de fato, em patamares melhores do que um ano atrás. O que é muito bom.
Mas é importante observar um detalhe: esses mesmos indicadores já haviam apresentado melhora significativa na virada do primeiro para o segundo semestre de 2016. E o que se viu logo depois? Um tremendo recuo dos índices – que, aliás, anteciparam o encolhimento de 0,8% do PIB no terceiro trimestre em relação ao período de abril a junho.Ou seja, mesmo capazes de ler com razoável precisão o que vem pela frente, não há garantias de que a melhora continue nos próximos meses.
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Crer nisso é se comportar como aquela galinha que, alimentada diariamente pelo granjeiro, acredita que nunca passará fome. Sem se dar conta de que a repetição, por si só, não é fiadora de nenhum comportamento, não percebe que ela mesma pode acabar virando a refeição a qualquer momento.
Analisadas em um horizonte mais amplo, as melhoras significativas aparecem, de verdade, nos indicadores de confiança da economia brasileira medidos por FGV, CNI e Datafolha.
Os índices que começaram a desacelerar em 2014 e despencaram em 2015, vêm evoluindo de forma consistente nos últimos 12 meses.As expectativas correntes em relação ao nível de renda, salários, lucros e empregos acaba tendo impacto enorme na psicologia dos trabalhadores e empresários.
E isso pode ser o sinal mais claro de que o ciclo que retroalimenta a recessão está para acabar. Afinal, enquanto alguém não começar a investir e gastar, ninguém investe e nem gasta.
*A colunista Marta Sfredo está em férias