Sim, o título embute uma contradição em termos. O superávit de US$ 47,692 bilhões da balança comercial foi causado mais pela queda de 20,1% nas importações do que pela reação das exportações, que também recuaram 3,5%, apesar da alta do dólar que marcou o início de 2016. Ou seja, é um resultado patrocinado pela mais profunda recessão da história. Ainda assim, é alentador. Se no meio dessa crise que o Brasil atravessa ainda tivesse problema de abastecimento de dólares, seria ainda pior.
A disparada na cotação do dólar, entre o final de 2015 e o início de 2016, prometia uma reação nas vendas externas de produtos brasileiros. Alguns segmentos conseguiram se beneficiar desse efeito, mas a maioria enfrentou problemas para recuperar mercados e emplacar negócios. À medida que a alta foi cedendo, ficou claro que não seria pelo lado da exportação que a balança comercial se recuperaria. Em 2016, o dólar fechou em queda de 17,7% em relação ao ano anterior, a primeira vez em que o real se apreciou frente à moeda americana desde 2010.
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Ainda assim, o resultado da diferença entre exportações e importações rendeu um saldo 142,3% maior do que o obtido em 2015. A cotação contida do dólar não deu gás às vendas ao Exterior, mas a maior disponibilidade de dólares ajudou a conter a inflação, o que foi essencial para projetar uma queda maior no juro básico para 2017. Com menos dólares disponíveis em casa, o Brasil poderia estar com menos possibilidade de sonhar com a retomada neste ano.
Para este ano, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta superávit ainda maior, de US$ 51,65 bilhões. Desta vez, ao menos na visão da entidade, será um aumento de saldo com crescimento nos dois pratos da balança: 7,2% nas exportações e 5,2% nas importações.
Quando divulgou suas projeções, em meados de dezembro passado, a AEB advertiu que "a insegurança e a incerteza vigentes poderão demandar revisão dessas projeções" antes do habitual. Entre as várias listadas, a primeira e principal: a administração Donald Trump, com "eventuais ações de protecionismo, revisão de acordos comerciais, elevação de juros, atração de capitais financeiros e/ou investimentos produtivos, fortalecimento do dólar, encarecimento das exportações dos EUA e barateamento das importações".