Mais surpreendente do que a imagem de Eike Batista preso e de cabelos raspados, é o comunicado de algumas poucas empresas remanescentes daquele que já foi descrito como modelo de empresário do Brasil. As petroleiras Óleo e Gás Participações (OGPar) e OGX e a mineradora MMX divulgaram nota assegurando que suas atividades não são afetadas pela prisão. O maior ativo dos negócios de Eike sempre foi... Eike. Isso vale tanto para as virtudes do empresário quanto para seus vícios, cada vez mais expostos à iluminação pública.
Pode ser conveniente reduzir Eike Batista a um símbolo da gestão petista, mas não é verdadeiro. Se ele contou com apoio do governo federal, também teve o respaldo e a admiração de milhões de brasileiros, poderosos ou não. Milhares investiram suas economias no castelos de cartas montados sobre expectativas, outros tantos – nós da imprensa incluídos – não tiveram o olhar suficientemente agudo para detectar em seus movimentos a inconsistência que hoje parece óbvia.
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As relações de Eike não eram políticas, eram estratégicas e pragmáticas. Buscou se aproximar de todos os que pudessem funcionar como atalho de seu projeto pessoal de se tornar o homem mais rico do mundo. Não foi apenas graças ao clima político permeável a favorecimento e privilégio que ajudou a construir a carreira meteórica – neste caso, literalmente, já que a velocidade de ascensão só foi superada pela da queda.
A cultura empresarial baseada em bônus que premiavam não o foco no resultado, mas na capacidade de deslumbrar o mercado teve um papel importante nesse episódio ainda insuficientemente explorado pedagogicamente na história do Brasil. Ainda é tempo: é preciso entender o que ocorreu com Eike para que política e negócios no Brasil retomem seu caminho.