Pelas reações dos mercados, ainda havia muitos otimistas. Desde a surpreendente eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, mantinha-se a interrogação: quem assumiria a Casa Branca seria o mesmo candidato de frases abertamente xenófobas, manifestamente protecionistas? Em seu discurso da posse, ele fez questão de responder que sim.
Se o primeiro discurso após a vitória havia reforçado a esperança de quem esperava o arquivamento das teses agressivas, o da posse reavivou os temores de quem vê no poder um Trump igual ao que percorreu os EUA com suas palavras segregadoras. Durante a fala, houve deslizes em todos os principais índices de bolsas de valores do planeta. Os de Nova York, que andavam animados com as perspectivas de estímulo à economia, não caíram, mas encurtaram os ganhos.
Como o pronunciamento foi pesado no tom mas não trouxe medidas concretas, o desânimo foi temporário. O que se projeta para os próximos dias – há expectativa de medidas de curto prazo, especialmente para mudar deliberações do governo Obama –, é muita volatilidade: altas se não houver novidade, baixas acompanhando “trumpices”. É provável que seu primeiro alvo, como ele tem avisado, seja o programa de saúde apelidado de Obamacare. Mas estão na economia alguma das principais preocupações e, portanto, ações do novo presidente.
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Para poupar os leitores apenas de adjetivos autorais, a coluna recolheu algumas reações, no Twitter – para se beneficiar da concisão –, de economistas, historiadores e filósofos que escolheram viver nos EUA, assim como o avô alemão de Trump há mais de um século. Nouriel Roubini, espécie de fruto da globalização, com origens israelense, iraniana, turca e italiana, que se tornou famoso ao “prever” a crise de 2008, caracterizou assim: “raivoso, populista, nacionalista, unilateralista, depressivo, insultante, mau, sem meios-tons, intolerante, arrogante”. O filósofo descendente de japoneses Francis Fukuyama, considerado ideólogo do governo Reagan e autor da tese do “fim da história” – o que incluía a vitória final do capitalismo liberal: Trump só falou para um fatia específica dos EUA, não para todos nós”.
Uma das frases mais espantosas de Trump – não por acaso, virou manchete do site do The New York Times – foi “this american carnage stops right here” (essa carnificina americana para aqui). Jornalistas americanos compararam a frase com a famosa citação de John Kennedy “não pergunte o que a América pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pela América”, que se tornou um clássico. Não houve trechos edificantes no pronunciamento. Apenas uma coleção de ameaças, bravatas e palavras duras. Não foi à toa que colheu protestos violentos nas ruas. O risco Trump voltou a subir.