O Banco Central toma nesta quarta-feira a decisão que deve cristalizar o clima da economia em 2017. Depois que o Relatório Focus manteve a projeção média de crescimento neste ano em 0,5%, mesmo após uma produção industrial decepcionante no geral e promissora apenas nos detalhes, só cresce a pressão para um corte mais agressivo da taxa.
Na média, a expectativa do mercado é de uma redução de 0,5 ponto percentual, a maior desde agosto de 2012, mas há grandes instituições, como o Itaú Unibanco, fazendo aposta mais ousada, de 0,75 ponto, ou seja, redução para 13%. Neste caso, teria uma dimensão não vista há quase quatro anos. A mais recente havia ocorrido em março de 2012, com a taxa mergulhando, de uma vez, de 9,75% para 9% ao ano (Saudade? Pois é...).
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O que abriu espaço para um corte mais agudo foi o recuo da inflação. No mesmo dia da decisão do BC sobre o juro, será conhecido o resultado do IPCA em 2016. Há certo suspense porque, embora na média exista a projeção de fechar dentro do teto da meta de 6,5% ao ano, há também algum ceticismo.
A queda na inflação que abriu caminho para um corte mais agressivo no juro ocorreu, em boa parte, à custa da recessão. Ou seja, o fato de os preços terem moderado sua alta não é prenúncio de novas quedas, mas efeito da que já ocorreu. Como a economia não parou de derreter, também segurou reajustes de preços. Agora, é preciso garantir o outro lado da equação – expectativa de preços mais contidos criando possibilidade para alívio nas taxas.
Além de ser um dos poucos alentos para uma economia sem outra perspectiva de recuperação – apesar dos múltiplos anúncios, o governo não tem dinheiro para dar estímulos ou incentivos –, um corte mais pronunciado poderia ser um alívio para a dramática "síndrome do calote" que trava negócios e consumo.
Mesmo com o corte mais ousado, de 0,75 ponto percentual, 2017 ainda será um ano difícil, pouco diferente do anterior. O efeito só virá, como ocorre sempre com política monetária, dentro de seis ou nove meses. Mas o sinal que uma redução mais drástica pode oferecer tende a ajudar a melhorar as expectativas.