Nada como um recesso judiciário e legislativo para permitir uma pausa na sequência de sustos que o Brasil vem acumulando ao longo de 2016. Houve até escândalo com licitação de guloseimas e operação da Polícia Federal, mas o mercado reagiu com volatilidade moderada e absorveu os solavancos. A semana e o ano vão se encaminhando para o final – na sexta-feira, a bolsa de valores não opera – em tom mais ameno, depois de arroubo de entusiasmo seguido por mergulho no pessimismo.
As idas e vindas sobre o que, exatamente, o presidente Michel Temer vetaria na renegociação das dívidas dos Estados ditaram o ritmo da bolsa.
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O Ibovespa passou a decolar quando surgiram as primeiras informações de veto total ao projeto, porque o mercado "leu" um sinal de reforço do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O fechamento com alta de 1,85% foi o quarto sucessivo em terreno positivo, algo que não se via desde o período de 18 a 23 de novembro.
À tarde, veio a confirmação de que apenas o socorro aos três Estados em "calamidade financeira" – Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais – ficaria de fora. Se é motivo de inquietação para o Rio Grande do Sul diante do risco de perder a carência de três anos, que reteria no Estado o equivalente a R$ 8,7 bilhões, a postura do governo federal de reforçar o cuidado com as contas públicas dá sinal correto.
Não faz sentido impor teto às despesas e reformar a Previdência, medidas que cobram a conta do desajuste da população, sem exigir das unidades da federação a mesma postura.
A projeção de déficit primário (falta de receita para cobrir despesas, sem contar o pagamento de juros da dívida) para dezembro do governo federal é de R$ 73,5 bilhões. Se não estourar, a conta vai ficar dentro da estimativa de fechar o ano devendo mais R$ 167,7 bilhões. Excesso de dívida é o nome da doença que congela as tentativas de retomar o crescimento. Sua solução vai levar tempo, mas é melhor que comece logo.