Diante da falta de entusiasmo com o que deveria ser o primeiro pacote de Natal do governo Temer, novas medidas estão sendo elaboradas para tentar melhorar as perspectivas para 2017. Até por serem mais técnicas, as do Banco Central enfrentam menos reação, mas a resistência às propostas na área trabalhista vieram com maior rapidez e intensidade.
No discurso extraoficial do governo federal – ninguém ainda se manifestou formalmente no assunto, talvez por trauma das declarações desastradas do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, em setembro – o objetivo das mudanças é permitir a contratação por hora, sem precisar cumprir jornadas definidas, e combater o avanço do desemprego. Presidente da União Geral dos Trabalhadores, Ricardo Patah disse ter conversado com o ministro do Trabalho e obtido de Nogueira a garantia de que a intenção é criar alternativas de geração de postos de trabalho, sem precarizar o emprego.
Foi uma das poucas reações conciliadoras no meio sindical. A CUT alegou desconhecimento e avisou que vindo do governo Temer, "coisa boa não deve ser". Desfazer a má imagem da famigerada "jornada de 12 horas" custará mais ao governo. Sob o argumento da proteção ao trabalho, há regras anacrônicas no Brasil de 2016. Não há dúvida de que a CLT clama, há décadas, por modernização. Mas entre maus precedentes e politização, além da desconfiança em relação às medidas específicas, o momento não será o mais favorável.
Embora um grupo de economistas, entre os quais José Pastore, professor emérito da USP, não só defende, mas recomenda as medidas, outro já afia o discurso contrário. Anselmo Santos, professor da Unicamp, lembra que nos anos 1990, foi adotado o mesmo modelo de legislação, e o desemprego explodiu. O temor desse grupo é a substituição da mão de obra atual pela "flexível", de menor custo. Será mais uma batalha pela "narrativa", quase perdida no caso da PEC do Teto.